A MAGIA DO NATAL

25.12.21

É a primeira vez, desde que comecei a escrever neste blogue, que não posto a mesa de Natal no dia 24. Tentei, mas o tempo não estica e nem dá para tudo. E é quando não consigo cumprir os meus objetivos, que paro um pouco para pensar, e faço uma nota mental para no ano seguinte começar a tratar de tudo com mais antecedência. Só que um ano depois, imponho-me sempre mais umas quantas tarefas, coloco imensa pressão em cima de mim mesma e tenho dias absurdamente carregados até chegar à véspera do Natal: escolher ou fazer o presente ideal para cada um faz-me "perder" bastante tempo, de há uns anos a esta parte evito usar papel nos embrulhos o que me obriga a fabricar sacos e etiquetas em materiais que possam ser reutilizados (geralmente tecido) e empenho-me bastante na decoração da casa. tentando sempre que esta siga um tema, uma paleta de cores ou tenha pelo menos coerência no seu todo. Já várias vezes apanhei-me a pensar se este esforço vale a pena, se terá sido alguma vez apreciado e se não deveria simplificar e até mecanizar tudo de uma próxima vez. Até que há uns dias li uma constatação que me tocou: alguém dizia que só em adultos percebemos que por detrás de toda a magia do Natal que sentíamos em criança, estava uma pessoa que gostava muito de nós. E veio-me à memória um tempo longínquo em que a minha mãe não evitava esforços para surpreender a família, em que com pouco recursos, havia encantamento, luzes e ambiente feérico na sala lá de casa. Em que meu pai trazia sempre a árvore maior e mais bonita que encontrasse e o recheio do peru tinha um aroma e um paladar tão especiais que nunca conseguiu ser superado. Sem falar nos presentes trazidos pelo Pai Natal que apareciam aos pés das camas das filhas na manhã do dia 25. Tudo isto era preparado com carinho e feito com amor. E caiu-me a ficha. Não é preciso um apreço verbal: se ficar na memória e trouxer daqui a muitos anos boas e ternas recordações, a ponto de nos fazer sorrir, terá valido mais do que a pena. 

Feliz Natal. Feliz Ano.

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MESAS DE NATAL COM A LOIÇA DE TODOS OS DIAS

15.12.21

Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de uma mesa criativa, e que aliás, um dos meus maiores vícios, penso que o único até, do qual já falei aqui, é comprar pratos. Entre loiças herdadas, compradas e oferecidas, tenho de todas as cores, feitios e desenhos. E uso-as bastante, no dia a dia, em ocasiões especiais ou fins de semana em que há mais tempo disponível e surja a vontade de fazer alguma coisa diferente. Por essa razão, adoro ver, na época de Natal, as propostas que aparecem nas lojas. São inspiradoras e cada vez mais, fico com a ideia de que o conceito de mesa de Natal requintada em que se vai buscar aos armários a melhor loiça da casa, os copos de cristal e os talheres de prata, não caiu em desuso, continua a ser tradição em certas famílias, mas que mesas com cariz rústico e montadas com os objetos de todos os dias são igualmente válidas e bonitas. A ligação ao Natal fica por conta do pequeno twist que damos a esses objetos quando os juntamos com azevinho, velas, pinhas achadas nos parques, ou um ou outro acessório mais rebuscado que sempre temos em casa. Neste post, há uns anos, mostrei mesas completamente fora do vulgar, com cores tudo menos tradicionais. Desta vez, a proposta é dar-vos a conhecer mesas em que foram usados tons neutros, texturas, madeiras, copos brancos, pratos comuns, talheres do diário, mas ainda assim, cheiram a Natal e aconchegam os olhos e o coração. A 10 dias do Natal, ainda há tempo de colhermos ideias e inspirações!

Tons neutros, texturas, sousplats de madeira e guardanapos colocados de forma original. A tudo isto basta somar ramos verdes e de algodão:

RESULTADO DO SORTEIO

8.12.21

Não tenho palavras para agradecer os comentários cheios de carinho e positivismo, sabe bem ler e me faz sentir ainda mais segura de que vale a pena continuar a produzir e a mostrar o que faço e o que vejo por aí! Foram 16 "candidatos" mais uma pessoa que comentou já fora do prazo, mas mesmo assim eu teria considerado, não fosse já ter feito o sorteio e portanto não ser justo para a seguidora que tinha sido a premiada. Obrigada pelo vosso tempo e agora aqui fica o resultado:

Considerei  no programa Random os algarismos de 1 a 16 e este gerou o número 12:

9 ANOS

1.12.21

 

E cada ano que passa, eu penso comigo mesma que os blogues vão recuperar e voltar ao que eram, cheios de atividade e interação. Doce ilusão! Perderam para as redes sociais onde tudo é mais rápido e imediato: postagens e reações. Mas eu por aqui permaneço, somo mais um ano, e já são 9! Continuo a gostar de mostrar o que faço, continuo a gostar de inspirar quem me visita e de me deixar influenciar com os trabalhos que vejo por aí. Adoro o mundo dos blogues e a sua riqueza infinita. Dá-me prazer escrever e fotografar. Sinto-me bem a "perder" tempo aqui, nesta que considero ser a minha casa virtual, onde quem entra, geralmente tem muitas afinidades comigo. E para celebrar mais um ano, vou sortear uma beach bag, que ainda não tive tempo de terminar e por essa razão só vêem abaixo a foto com os elementos que a compõem. Tudo nela é colorido, mistura de padrões e alegria, uma peça cheia de boa onda para ser usada no tempo quente (ou não!). Quem quiser se habilitar, é só cumprir 2 regras muito simples: ser seguidor/a do blogue e deixar um comentário até dia 7 de dezembro próximo. Dia 8 publicarei o resultado (e mostrarei a mala pronta!).
Beijos e....boa sorte!!


MESINHA DE CABECEIRA PINK

22.11.21

Nunca pesquisei a fundo sobre o assunto, mas do que tenho observado, ouso dizer que Queen Anne foi o estilo mais popular nas casas Portuguesas lá pelos idos anos 50 do século passado. Sem muito ornamento, os móveis caracterizavam-se essencialmente pelas formas curvas nos pés e pernas, o que lhes conferia uma certa elegância. Na casa da minha sogra, toda a mobília da sala de jantar era neste estilo e incluía além de uma mesa extensível, 12 cadeiras e 2 grandes aparadores. As peças, quando isoladas, tinham o seu encanto, mas todas juntas tornavam o espaço, na minha opinião, bastante enfadonho, e quando foi preciso esvaziar a casa, só aceitei ficar com a mesa, que torna-se enorme quando aberta e que um dia espero repaginar. Mas como dizia, isoladas, as peças destacam-se pela sua airosidade, e as mesinhas de cabeceira, tão típicas, com uma gaveta e uma portinha, são pequenas, leves e graciosas. Adquiri um par delas a uma blog amiga que muito estimo e que, por força das circunstâncias se viu a braços com a árdua tarefa de desfazer a casa da mãe. Penso que fui feliz ao ousar dar a uma das mesinhas uma cor forte, que transmitisse energia e boas vibes. Usei mais uma vez, chalk paint e os Decor Transfers da Redesign with prima que já tinha utilizado aqui e aqui, são versáteis e as peças passam de corriqueiras a únicas. Ainda tenho a gémea desta para reformular e espero conseguir fazer algo que se harmonize com esta irmã mas que as duas não façam exatamente um conjunto. Digamos que continuem gémeas, mas não verdadeiras, que ambas ganhem em personalidade e também em individualidade, possam ser usadas juntas ou brilhem cada uma no seu ambiente.

CASINHA EM BALSA VIRA MANSÃO MAL ASSOMBRADA

30.10.21

Halloween não é uma festa tradicional portuguesa mas, apesar da "moda" só ter chegado ao nosso país há relativamente pouco tempo, o fato é que de ano para ano vemos nas lojas mais e mais adereços à venda, alguns bem engraçados, outros bastante grotescos, e nas ruas é crescente a quantidade de jovens que resolvem comemorar o dia das bruxas vestidos a rigor. Eu, sem ser nem deixar de ser uma grande fã do fenómeno, a verdade é que deixo-me contagiar pelo ambiente e pela brincadeira: já me aconteceu de montar mesa temática só para entrar no clima; no ano passado decorei a porta de entrada de casa, o que fez as delícias da criançada do prédio e este ano desafiei-me a transformar uma casinha sensaborona de loja Chinesa, em mansão mal assombrada. Era uma ideia que queria já ter posto em prática há tempos: pegar numa casa miniatura, dessas sem graça feitas em balsa e dar largas à imaginação tornando-a irreconhecível. Confesso que levei mais tempo do que seria necessário à volta dela, mas que me diverti bastante, e que o mais difícil mesmo foi arranjar elementos minimamente à escala da casa, já que esta é relativamente pequena, não medindo mais do que um palmo de altura. De resto foi só soltar a criatividade: usei cartão para telhar a mansão, papel celofane verde nas janelas, desmembrei esqueletos para torná-la assustadora, coloquei formigas de plástico em vez de aranhas nas teias e catei na rua galhos, cascas de pinheiro e terra. E para quem por aqui passar, desejo um Halloween divertido e aterrorizante! BOO!!

TÉCNICAS VARIADAS APLICADAS A UM MESMO OBJETO

8.9.21

A peça não é nada de especial, mais um banquinho rústico e de beleza duvidosa que encontrei por aí. Mas sendo pequena e de pouco valor serviu-me para continuar a testar o comportamento das Chalk Paints e também a combinação destas com stencils e transfers, coroando o todo com uma técnica que não é das minhas preferidas e portanto nunca tinha usado e que é o velho e conhecido décapé. Este termo vem do francês e significa decapar, ou seja, arrancar camadas de um dado material atribuindo ao objeto um aspeto envelhecido. E do meu ainda pouco convívio com as chalk paints, parece-me que estas «pedem» esse look desgastado, pois são tintas encorpadas, que quando aplicadas conferem às superfícies uma certa rugosidade e textura. O meu objetivo é usar estas 3 técnicas num móvel a sério e portanto este banquinho serviu para mim como tubo de ensaio para ganhar confiança e me lançar nessa tal peça maior e de mais responsabilidade. Mas enquanto isso não acontece, fica aqui o depois e o antes do pequeno banco.

BEACH BAG

18.8.21

Estava eu sem ideias para as aulas de patchwork que frequento uma vez por mês, quando a prof popôs que eu fizesse uma mala de praia, sugestão que aceitei na hora, pois já tinha visto as minhas colegas fazerem várias, mas nunca me tinha aventurado numa, achando que talvez fosse coisa de um nível bastante acima das minhas capacidades. Não sei onde a prof foi buscar o tutorial, mas achei a execução tão simples que resolvi compilar abaixo para mais tarde recordar. E além de fácil, pareceu-me também um modelo que dá "para inventar", ou seja, que é super adaptável ao estilo e às cores favoritas de cada um, é passível de se colocar fecho ou um botão extravagante, por exemplo, enfim, é suficientemente flexível para ser levado sempre a um nível acima. Com o entusiasmo, não me fiquei somente pela beach bag e com as sobras do tecido jeans e do enchimento, ainda fiz uma pequena mala, com as cores que mais trajo atualmente e do tamanho certo que uso para trabalhar. Já estreei ambas e fizeram sucesso. Como bónus, e porque adoro a graça de surpreender, coloquei pequenas frases inspiracionais no interior. Gosto da ideia de partir de um trabalho simples e dar-lhe um twist por forma a que a peça diga bastante sobre nós. Aliás, é mesmo isso o que mais me atrai no DIY: a oportunidade de imprimir a minha personalidade naquilo que faço e uso.

DE MÓVEL DE CASA DE BANHO A MÓVEL GUARDA COMIDA

31.7.21
Não é a primeira vez que me cruzo com este tipo de móvel. Eram tão corriqueiros há 60, 70 anos, surgiam nas mais variadas formas e tamanhos, ficavam por cima dos lavatórios nas casas de banho, e geralmente chegam aos nossos dias bastante danificados por anos a fio de humidades em instalações sanitárias com pouca ventilação, e também pelo uso ao qual estavam destinados: acondicionar escovas de dentes e demais itens de higiene, como tónicos, loções, líquidos para gargarejar, enfim frascos de toda a sorte que acabavam guardados molhados provocando manchas e algum bolor. Este estava exatamente nesse estado, numa casa de banho de um velho andar em obras e só não foi parar ao vazadouro porque o empreiteiro, contrariado diga-se, fez o esforço de ir ao entulho "ver se ainda lá está" só para não me ouvir mais a perguntar pelo dito cujo. Seja como for, o fato é que saí de lá feliz da vida, com a pequena peça imunda em baixo do braço. Adoro pequenas peças; são fáceis de manejar, dão pouco trabalho e permitem-me fazer experiências. Eu tenho fazes, e atualmente ando apaixonada pelas chalk paints da Annie Sloan. As cores são lindas, dispensam o primário, a cobertura é ótima e conferem uma certa textura. Parece propaganda, e é, só que grátis. Também ainda não me cansei dos decor transfers, antes pelo contrário, portanto sinto que nos próximos tempos a combinação Annie Sloan Chalk paints / decor transfers serão uma constante por aqui....
Mas voltando ao pequeno armário, quando o coloquei sobre a bancada de trabalho, só tinha em mente que queria me ver livre das divisórias interiores, que de tão estreitas tinham pouca utilidade. Arrancá-las, estragou o fundo e facilitou-me a vida. Fiquei com uma tela em branco para pintar e transferir decalques. Gosto quando os móveis não revelam por fora aquilo que têm lá dentro: Beauty comes from the inside, dizem, e eu concordo plenamente. Confesso que primeiro acabei a parte de dentro pois estava numa relação de amor-ódio com a porta: não gostei da madeira que apareceu quando lixei a tinta velha, o espelho não me dizia nada e o vidro pintado menos ainda. Considerei mesmo descartá-la mas lá pelas tantas pensei que se tinha desmontado o móvel, também poderia desmantelar a porta e quando o fiz, achei que com um puxador novo e uma tela, a coisa poderia se compor. Foi assim que de móvel de casa de banho passou a guarda comida. Por força das circunstâncias. E da minha implicância.


TOTAL MAKEOVER DA CASA DE BANHO DO CASAL

11.7.21
Depois do quarto das filhas, do banheiro delas e do filho e da sala, a última grande remodelação que faltava fazer cá em casa era a casa de banho minha e do marido, que passou de completamente insípida para um espaço com mais leveza e personalidade. O banheiro vinha já há tempos com problema de cheiros que não conseguíamos resolver e a descarga da sanita havia sido arranjada 2 ou 3 vezes sem sucesso, fatores estes que nos incomodavam bastante na utilização do espaço no dia a dia. Houve dois grandes objetivos na concretização das obras: o primeiríssimo era tirar a sanita da frente da porta. A segunda intenção era ter uma casa de banho com pouco ar disso. A mudança da sanita para um novo local foi uma incógnita até partirmos o piso e verificarmos que felizmente tínhamos pendente para o esgoto no sítio que queríamos colocar o vaso. Já a ambientação estava mais ou menos toda na minha cabeça menos o painel mural que acabou por ser o protagonista do espaço. Este foi-me sugerido (e fornecido) em boa hora por uma amiga designer de interiores e apesar da melhor parte dele ter ficado escondida pela bancada, a verdade é que surpreende quem entra no espaço. O resto foi aproveitado de outros lados ou garimpado por aí: a bancada é um side board dos anos cinquenta sobre a qual coloquei uma pedra, a luminária de teto foi adquirida numa loja vintage. O espelho com luz atrás, encontrei-o on-line após dias de navegação, o banco de cerâmica e o bacio antigo já passaram por outros ambientes onde tiveram outras funções, o cabide de parede veio da casa da filha, o copo das escovas de dentes faz parte de um set de copos em cerâmica para tomar café com leite e a saboneteira (que não é conjunto com o copo mas combina) é um porta trecos a.k.a esvazia bolsos. Tudo junto e misturado alegra-me os olhos e a alma quando pela manhã os primeiros raios de sol refletem nas paredes. Não há mesmo como não começar bem o dia!

TÁBUAS, BANDEJAS OU SIMPLESMENTE PRATOS GRANDES...

3.6.21

Quem me conhece minimamente, sabe que eu até me interesso por vários assuntos MENOS por tudo que tenha a ver com culinária. Não tenho imaginação na cozinha e nem sequer vocação. Mesmo ciente disso, a Ciane, amiga que desvirtualizei há alguns anos, resolveu tirar-me da minha zona de conforto e convidou-me para fazer parte de um grupo de 7 mulheres que iriam, no Instagram, postar tábuas de servir, originais e inspiradoras. Relutei a princípio mas não tive como me esquivar e lá fui eu para esse mundão que é a internet, pesquisar sobre o assunto. E foi uma grata surpresa. Sim, nunca pensei que tábuas, bandejas ou simplesmente pratos com alguma dimensão pudessem ser versáteis ao ponto de servir de base a composições tão fora da caixa, diversificadas em termos de texturas, cores e sabores, onde, ouso dizer, não há limites para a criatividade. E mais, para quem não sabe e não gosta de cozinhar, é até uma forma prática de pensar num tema e a partir daí conseguir compor uma mesa bonita e sobretudo, apetitosa. A minha proposta hoje, é fazer uma resenha das 7 tábuas apresentadas, todas elas feitas com muito carinho, empenho e contendo, como todo trabalho artesanal e criativo, muito da personalidade de cada autora. Cada tábua é única e intransmissível, pode ser exuberante ou mais contida, emotiva até. A beleza está na pluralidade. Inspire-se à vontade!

Vou começar pela tábua que montei, uma "Pancake Board" numa mesa que denominei de "Breakfast in America". À primeira vista, pode até impressionar, mas se olharmos com atenção, a composição é muito simples: panquecas no centro e à volta frutas frescas, frutos secos e doces. Uma toalha bonita, muita cor e flores comestíveis completam o conjunto!

A CASA DOS MEUS AVÓS

6.5.21

Em 2013 visitei a casa dos meus avós paternos, no nordeste do Brasil. Senti que seria a última vez que lá ia e tirei fotos de alguns elementos que mais me marcaram na minha infância e dos quais gostaria de guardar memória. Fotografei-os não por serem bonitos ou dignos de algum registo especial mas para não me esquecer das sensações que eles me causavam quando, uma vez por ano, nas chamadas "férias grandes" escolares, a minha mãe embarcava numa longa viagem transatlântica com as 3 filhas para se reunir à família. 

Na verdade ficávamos sempre hospedados na casa dos avós maternos, um casarão dos anos 50, bonito, confortável e bem decorado, curiosamente situado na mesma rua da casa simples dos avós da parte do pai. Passávamos portanto os meses de férias de verão a saltitar entre uma casa e outra. Dois mundos diferentes. Dormíamos na vivenda da família da mãe e brincávamos na casa dos pais do meu pai, que é onde estavam os mais de 20 primos que tínhamos por lá. 

Meu avô paterno tinha dado um pouco do terreno da casa a cada filho quando estes casavam (menos ao meu pai que tinha imigrado para Portugal) para que estes construíssem seus próprios lares, de modo que todos moravam porta com porta numa grande comunidade. É imaginar a alegria, a cumplicidade, as brincadeiras que emanavam daqueles 20 miúdos, ou mais, criados praticamente como irmãos. Para as minhas irmãs e eu era aterrar (literalmente) em um ambiente totalmente novo, que ao mesmo tempo nos seduzia e nos intrigava. Eles eram livres e audaciosos, nós, recatadas e tímidas. Olhando hoje para aqueles tempos, sinto que nos esforçámos para nos integrar mas não tenho a certeza que o tenhamos conseguido. Até porque o que ficou mais na minha memória não foram tanto as brincadeiras que inventávamos juntos mas as sensações que a casa sempre me passou. 

A primeira e mais importante era a falta de vidros nas janelas. Aliás nem existiam janelas. Haviam vãos que eram encerrados por venezianas, treliças, grades abertas e demais elementos vazados que permitissem arejar a habitação e enganar o calor que se faz sentir naquela região 365 dias por ano. Esta falta de fronteira entre interior e exterior era novidade para mim. Nas poucas noites que lá dormi, estar deitada na cama e ouvir os passos ou as conversas de quem passava na rua era quase perturbador. 

A casa tinha sido acrescentada ao longo dos anos, sem qualquer coerência ou harmonia nos materiais usados e era uma autêntica manta de retalhos no que diz respeito aos acabamentos. Nem sequer havia um estilo único, cada cómodo tinha sido decorado ao bel prazer de quem o ocupava. O quarto dos meus avós era muito austero, com móveis grandes e escuros e lembro que as paredes da sala ostentavam vários trabalhos feitos pela minha avó: tapeçarias e pratos pintados. Símbolos religiosos também estavam bastante presentes, o que ia muito na contramão da educação que os meus pais me davam. A parte mais recente da casa era a cozinha, móveis bem alinhados, paninhos pintados pela avó, onde os eletrodomésticos eram guardados cuidadosamente dentro de sacos, talvez para não apanharem pó lá de fora, não sei. 

Na época era tudo muito extraordinário para mim. A minha realidade era um apartamento grande e requintado no centro de Lisboa, onde minha mãe impunha suas regras espartanas e não havia lugar ao improviso. Hoje entendo esta casa, espelhava a história de vida dos meus avós: o terem vindo do província, terem acrescentado a casa à medida que a família crescia, o terem partilhado mais tarde o terreno para ajudar os filhos, a falta de vidros por razões práticas e a generosidade de manterem as portas sempre escancaradas para filhos, genros, noras e mais uma penca de netos que todos os dias entravam, saiam, dormiam, comiam e brincavam sem ter que pedir licença. Estou convicta de que, afinal, já era a tal "casa com vida" de que tanto se fala hoje em dia.


Meu avô costumava sentar-se nesta cabeceira da mesa entre as 11h30 e o meio dia, para almoçar. Para ele, o dia começava e acabava muito cedo. A porta amarela só era trancada à noite, na hora de se recolherem:

UMA PÁSCOA AINDA DIFERENTE

2.4.21

No ano passado, quando incrédulos, celebrámos a Páscoa confinados, não imaginávamos que um ano depois estaríamos a viver exatamente o mesmo cenário. Recuso-me no entanto, a chamar de "novo normal" a esta fase que atravessamos. Claro que estamos mais adaptados à situação, mas em mim, como em todos, existe o forte desejo de recuperarmos os nossos hábitos e a liberdade dos pequenos prazeres.

Quando chega esta quadra, chegam também, para os que moram no hemisfério norte, a primavera e os dias mais longos, trazendo energia nova e boa disposição. Páscoa é Renovação, e este ano, mais do que nunca, é também símbolo de confiança de que dias melhores estão para breve.

Feliz Páscoa!

PORTA GUARDANAPOS DE ORELHAS DE COELHO

21.3.21

A Páscoa está à porta mas ainda dá tempo de escolher as cores da mesa que pretende fazer para a quadra e confeccionar uns porta guardanapos de orelhas de coelho. Que a sua intenção seja uma Páscoa colorida ou a preto e branco, rústica ou mais requintada, basta arranjar umas argolas, baixar o molde que eu própria fiz e meter mãos à obra. Mas se está assoberbada de tarefas e também não lhe interessa investir no material, deixo mais abaixo pequeníssimos vídeos explicativos de como dobrar os guardanapos que já tem em casa, em formato de orelhas. Há sempre soluções ao nosso tamanho para montarmos uma mesa lúdica dentro do tema!

CÓMODA REPAGINADA COM DECOR TRANSFER

8.3.21
A Helka do Forma Plural diz uma coisa muito certa: "Não existe móvel feio, existe móvel mal amado". Não só concordo a duzentos por cento como adoraria que a frase fosse minha! É verdade que basta um olhar carinhoso, uma lixa ou uma lata de tinta para mudar completamente o rumo das coisas. E neste caso, bastou também um decor transfer, ou traduzindo para a língua de Camões, um decalque. Conheci a marca americana Redesign with Prima no Instagram, não descansei até descobrir um retalhista perto de casa e a cómoda Queen Anne da sogra foi a vítima que precisei para passar da ideia de usar um transfer à ação. Considero que a minha estreia na colocação de decalques foi de alto risco, mas claro que só me dei conta disso quando já tinha iniciado os trabalhos: decalcar sobre uma superfície plana e contínua é a piece of cake, mas resolver usar um painel que de tão grande vem dividido em 3 partes e decidir fazê-lo sobre gavetas com relevo e ligeiramente empenadas, cujos distanciamentos entre elas e o corpo da cómoda diferem (e bem) é outra coisa! Não vos posso explicar a minha técnica pois assisti a variadíssimos tutoriais mas esqueci todos eles no decorrer da empreitada e acabei por usar a intuição. Basta dizer que os tutoriais indicavam que os desenhos fossem transferidos com a cómoda deitada sobre as costas e eu fi-lo na vertical! Mas no final, mesmo com alguns rasgões, umas emendas menos felizes e outros deslizes, deu tudo certo e eu adorei o poder transformador dos decalques. A repetir!

CENAS DE UMA SALA NOVA #3 (ÚLTIMO CAPÍTULO)

13.2.21

Demorou a sair este último capítulo das obras na sala, porque o inverno anda rigoroso, dias cinzentos e chuvosos que me impediam de tirar fotos como eu gosto. Até que hoje, ao fim de três semanas, houve uma aberta, o sol espreitou tímido mas foi o suficiente para me fazer pegar na máquina e mostrar-vos as obras concluídas. Ainda há um ou outro objeto que continua à procura do seu lugar, uma poltrona que veio do quarto e está aqui em modo provisório, mas em geral, aquilo que imaginei, ficou pronto. Quem acompanhou os primeiro e segundo episódios sabe que o mais importante foi tirar a lareira e arranjar um estratagema que impedisse a vista franca de quem abria a porta de entrada de casa já que não temos hall de entrada. Check and Check. Demolir a lareira permitiu virar a zona de estar ao contrário, e a estrutura em madeira em frente à porta, que tanto receávamos que se tornasse um "mamarracho" no meio da sala saiu literalmente melhor que a encomenda. Foi idealizada por uma amiga designer de interiores, com uns toques meus, demorou 7 meses a ser executada e muitas idas e vindas minhas para explicar ao carpinteiro as dúvidas que o desenho suscitava, mas valeu a pena: cumpre bem a função que queríamos, não atravancou o ambiente e nem se tornou um obstáculo à luz natural que entra a rodo logo pela manhã. Mas melhor que eu falar é vermos as imagens. Como bónus, no fim da reportagem juntei plantas do antes e depois para aqueles que gostam de uma explicação mais técnica e TCHARAN.....um vídeo caseiro para os apressados que não se interessam em ver pormenores e apenas querem apreciar o resultado final. Enjoy you all! 

Comparando as fotos do atual e antes: o quadro do velho negro (que veio da casa dos meus avós maternos, no Brasil) está exatamente no mesmo local e foi o ponto de partida para a distribuição de todo o resto. O sofá e o tapete são novos e a mesinha amarela, foi a primeira peça que pedi à minha sogra para me dar, isto há 25 anos. Na época dei-lhe um banho de laca amarela e coloquei-a na casa de banho social, com uma certa pena minha que sempre a quis ver num local onde pudesse desfrutar dela mais vezes:


OBJETOS SOLTOS TRANSFORMADOS EM PORTA VELAS

18.1.21

Esta experiência já deveria ter aparecido aqui antes, pois a intenção era transformar algumas formas de bolo em porta velas para a mesa de Natal, mas o tempo encolheu e eu não tive escolha senão esperar uma oportunidade melhor. Encomendei o material na Amazon, esta cera natural e os pavios e não quis investir em óleos com cheiros e colorantes com receio do experimento não dar certo e eu ficar em casa cheia de matéria prima sem utilidade. Mas foi tão simples que estou a pensar reconsiderar. Todos temos guardadas peças avulsas e desirmanadas que podem vir a ter um pouco mais de utilidade do que somente enfeitar. Objetos como chávenas, copos pequenos e outros contentores de tamanho mais reduzido são os ideais. A partir daí, creiam, é só diversão, e não pensei que a experiência fosse correr com tanta facilidade, rapidez e resultados à primeira. Tantas vezes recebemos peças de serviços que pertenceram aos nossos avós ou pais e não sabemos o que fazer com elas além de enfia-las nos armários, eis uma boa forma de lhes dar nova função! É também uma excelente dica para uma prenda mais personalizada. Ora vejam:

MANTA EM CRAZY PATCHWORK PARA A ROSÁRIO

4.1.21

Neste início de Ano Novo, optei por mostrar-vos mais uma manta que fiz para uma bébé. O nascimento de uma criança traz felicidade, alegria e esperança de um novo porvir, exatamente o que ansiamos para 2021! Foi feita em Crazy Patchwork, uma técnica aparentemente sem técnica mas se consultarmos os tutoriais que pupulam por aí, os entendidos citam sempre uma ou duas regrazinhas básicas. Eu, passei por cima de todas elas, apenas separei os meus infinitos restos de tecidos por cores para me facilitar a vida e a partir daí foi coser retalho a outro retalho até formar blocos de 6 X 6 polegadas (sensivelmente 15,5cm X 15,5cm). A única coisa que falhou e que se olharem bem para as fotos eventualmente vão acabar por notar, é que o tecido jeans usado para unir os blocos tinha um pouco de strecht e isto dificultou-me imensamente o trabalho! Patchwork e elasticidade definitivamente não combinam e algumas costuras, por mais que eu tenha tentado dar o meu melhor, saíram um pouco tortas. Mas também, quem me manda ir comprar tecidos a uma loja em que por causa da pandemia, nos obriga a calçar luvas protetoras à entrada? Luvas plásticas impregnadas de gel (sim, dupla proteção, não vá a luva sozinha falhar!) + máscara tiraram-me totalmente a sensibilidade e o discernimento! Comprar tecidos sem sentir ou tocar, não existe! Nota mental para não voltar a lá entrar.

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