UMA CASA NAS ARDENAS

17.1.23

No final do ano passado estive na Bélgica. Gosto de lá ir quando está frio e os Marchés de Noel animam e enchem de cor e sabores as ruas. Geralmente, deambulo maioritariamente por Bruxelas, onde sinto-me (quase) uma local, porém desta vez uns amigos convidaram-nos a ir às Ardenas conhecer a casa que está na sua família há 100 anos. Das conversas que tinha com eles, ouvia com especial atenção as histórias que contavam de lá, de como tinha sido viver no seio de uma família numerosa, numa casa rústica e de modestas condições, num país de inverno rigoroso, e de como a casa deixou de ser morada da família mas passadas quatro gerações, continuava a ser ponto de encontro de avós, filhos, netos, tios e primos. De modo que, quando o carro parou à frente da casa, numa tarde de dezembro cinzenta e gelada, a impressão que tive é que eu ia ao encontro de uma velha conhecida. Ao entrar, fui imediatamente abraçada pelo calor de um velho fogão a lenha e na cozinha uma generosa mesa cuidadosamente posta, esperava por nós. As memórias são muitas e estão em cada canto: no bric a brac de objetos expostos, nos quadros que enfeitam as paredes, nas fotos desvanecidas, no piso de ardósia já gasto, nas portas que rangem ao abrir. O aparelho de televisão não existe, a internet é falha. Resta ler, pescar e dar uns mergulhos no rio que corre atrás da casa, fazer jogos no jardim que à noite os javalis invadem, desfrutar de randonnées pela natureza. Ali, as horas passam lentamente, marcadas pelos sinos da igreja do outro lado da rua. Uma vez por ano, em Agosto, todos os caminhos vão dar a esta casa, dezenas de parentes encontram-se, festejam os laços que os unem e antes de se dispersarem tiram a tradicional foto de grupo, tendo como pano de fundo a centenária fachada de pedra que tantas recordações encerra.

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