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REMODELAÇÃO DE UMA CASA NA VILA (PARTE II)

15.8.25

Quando há dois anos publiquei aqui o primeiro post sobre a casa, tinha a certeza de que partilharia convosco cada etapa das obras e imaginei-vos a acompanhar tudo, passo a passo. Mas depressa percebi que a realidade era bem menos emocionante: iria simplesmente postar dezenas de fotos de um “durante” sem graça de paredes que passavam de esburacadas a rebocadas e pouco mais. Decidi então esperar pelo momento certo, e ele chegou! Hoje divido convosco o resultado final da casa, com imagens do "agora" e do "antes". Excetuando as camas, um sofá e os tapetes, praticamente tudo o resto são peças recicladas por mim, provenientes das mais variadas origens: encontradas por aí, oferecidas por amigos, herdadas da família. Foram anos de um trabalho moroso e, no fim, quando tudo ficou pronto, confirmei o que suspeitava mas relutava em aceitar: que, somando o que já tinha em uso em casa ao que estava guardado na arrecadação, seria possível montar um novo lar… e ainda sobrava!

Nas próximas fotos, vou mostrar as escolhas que fiz para cada espaço e deixar os links das peças que aparecem nas imagens e que já foram destaque em publicações do blog. Espero que gostem porque ao vivo a casa transmite ainda mais originalidade, conforto, personalidade e é tão gratificante ver o resultado dessa transformação!


VIDA NOVA PARA UM APARTAMENTO SEM GRAÇA

1.7.24

Na minha vida de arquiteta acontece bastante o seguinte: entro num apartamento nem tão apertado assim, mas entupido de móveis, com os estores a deixar passar apenas uma nesga de luz e um quase nada de ventilação, e imediatamente ponho-me a imaginar como o mesmo se transformaria se o mobiliário obsoleto saísse, uma ou outra parede fosse abaixo e as persianas subissem completamente deixando a claridade entrar a rodo. Se por vezes saio desses mesmos apartamentos para nunca mais lá voltar, de outras é-me dada a oportunidade de operar essas mudanças! E quando chego ao fim de meses de trabalhos, pontuados por alguns revezes, mas também por gratas surpresas, concluo inevitavelmente que o mérito nunca é meu e sim do próprio imóvel, que ali jazia, cheio de potencial, apenas à espera de alguém que suba os estores, derrube uma parede e ouse com alguma cor. Nas próximas imagens vão ver como um andar de três divisões tornou-se num 2 quartos com sala e cozinha integrada e para aqueles que, como eu, gostam MESMO deste tipo de assunto, deixo, no final do post, plantas muito simples do antes e depois das obras para uma melhor orientação. Como extra, sugiro que espreitem aqui e aqui duas peças transformadas de propósito para esta casa. Enjoy!



MOVEL EM MADEIRA TRABALHADA GANHA NOVA ROUPAGEM

9.1.24

Em meados do ano passado recebi de uma instituição centenária em extinção, da qual eu fazia parte, boa parte do mobiliário da sua sede. Uma herança um tanto ou quanto pesada, no sentido literal do termo, uma vez que me obrigou a encontrar um local para guardar o recheio, mas também um legado bastante desafiante, pois irá obrigar-me a dar largas à imaginação se quiser modernizar as peças, continuando a respeitar a história que elas encerram e que eu tão bem conheço. A primeira que transformei, foi um móvel que em minha opinião encaixava-se como uma luva no local que eu tinha em mente, mas cujo trabalhado da madeira, além de lhe dar um ar sisudo e carregado, não realçava. Optei por dar-lhe uma cor mostarda e no caso usei tinta chalk paint cor Arles da Annie Sloan que é cara, reconheço, mas das tintas deste tipo que já utilizei, é sem dúvida a que tem melhor cobertura e evita duas etapas estafantes: lixar e dar primário. Além do que, as cores são só fabulosas! Perdi a conta de quantas voltas dei à peça e em quantas posições me coloquei para conseguir alcançar todos os cantos e retorcidos. Usei também vários tamanhos de pincéis e apliquei umas quantas demãos. Digamos que foi um trabalho em que arrisquei mas que depois de pronto encheu-me de orgulho. No final, dois pequenos detalhes, que não parece mas fazem uma certa diferença: tassels pendurados nas ferragens e tecido autocolante no interior. E aí o têm, de roupagem nova, saído de um ambiente taciturno para uma casa renovada e cheia de luz que pode ver aqui.

QUINTA DO ROSSIO

10.11.23
Adoro quando ao ser convidada para a casa de alguém, sou recebida na cozinha. E foi isto que aconteceu quando a Cristina combinou com os colegas do curso de restauro que frequento uma vez por semana, um almoço de verão na quinta da sua família. Entrar numa casa pela cozinha, é literalmente deixar as cerimónias do lado de fora e ganhar um abraço vindo do coração. Foi uma acolhida perfeita que tivemos na Quinta do Rossio, com direito a uma mesa simples, linda e farta no jardim. As conversas fluíram e os assuntos foram muitos e variados, mas a história da Quinta, as obras de conservação ao longo dos anos, o maravilhoso lagar que virou sala de estar, as peças que a Cristina restaura e espalha pela casa, a luz fabulosa que invade todos os espaços, foram temas constantes para aquele grupo de pessoas que tem em comum o gosto de resignificar peças. E esses elementos, aos quais foi dada uma segunda chance, estão por todo o lado: tem pé de máquina que virou mesa, tem mesa de cozinha que se transformou em bancada, baú do parente que veio embarcado do Canadá a decorar o lavabo, janela de madeira que agora é espelho. Enfim, a lista é tão grande, que mais vale observar as imagens com atenção, pois cada uma delas é uma inspiração. Atualmente, a Quinta, além de ser casa da família, também recebe para festas grandes, bodas, almoços informais para pequenos grupos, e inclusive acolhe hóspedes que podem disfrutar da piscina, dos jardins e das belezas das redondezas. Obrigada, Cristina e Francisco, por nos terem proporcionado este dia memorável, nos terem surpreendido com espaços e objetos que tanto têm para contar e dos quais cuidam e falam com um carinho tão especial!

UMA CASA NAS ARDENAS

17.1.23

No final do ano passado estive na Bélgica. Gosto de lá ir quando está frio e os Marchés de Noel animam e enchem de cor e sabores as ruas. Geralmente, deambulo maioritariamente por Bruxelas, onde sinto-me (quase) uma local, porém desta vez uns amigos convidaram-nos a ir às Ardenas conhecer a casa que está na sua família há 100 anos. Das conversas que tinha com eles, ouvia com especial atenção as histórias que contavam de lá, de como tinha sido viver no seio de uma família numerosa, numa casa rústica e de modestas condições, num país de inverno rigoroso, e de como a casa deixou de ser morada da família mas passadas quatro gerações, continuava a ser ponto de encontro de avós, filhos, netos, tios e primos. De modo que, quando o carro parou à frente da casa, numa tarde de dezembro cinzenta e gelada, a impressão que tive é que eu ia ao encontro de uma velha conhecida. Ao entrar, fui imediatamente abraçada pelo calor de um velho fogão a lenha e na cozinha uma generosa mesa cuidadosamente posta, esperava por nós. As memórias são muitas e estão em cada canto: no bric a brac de objetos expostos, nos quadros que enfeitam as paredes, nas fotos desvanecidas, no piso de ardósia já gasto, nas portas que rangem ao abrir. O aparelho de televisão não existe, a internet é falha. Resta ler, pescar e dar uns mergulhos no rio que corre atrás da casa, fazer jogos no jardim que à noite os javalis invadem, desfrutar de randonnées pela natureza. Ali, as horas passam lentamente, marcadas pelos sinos da igreja do outro lado da rua. Uma vez por ano, em Agosto, todos os caminhos vão dar a esta casa, dezenas de parentes encontram-se, festejam os laços que os unem e antes de se dispersarem tiram a tradicional foto de grupo, tendo como pano de fundo a centenária fachada de pedra que tantas recordações encerra.

ANTES E DEPOIS DE UM ANDAR CENTENÁRIO

15.10.22

Passei semanas a pensar como proceder com esta publicação. Remodelar andares antigos, mantendo tudo aquilo que faz parte do seu caracter e da sua personalidade é das coisas que mais me dão prazer de fazer na vida. Vivo tão intensamente todo o processo que quando este chega ao fim tenho uma dificuldade imensa em me separar das casas. Desta vez, quando a obra ficou concluída, dei por mim com centenas de fotografias e dezenas de vídeos no telemóvel, um acervo importante e interessante que relata bem todo o trabalho que foi realizado neste andar centenário. Intervenções cirúrgicas que trouxeram esta casa para o século XXI sem no entanto despojá-la da sua essência e originalidade. Fiquei sem saber como partilhar tanto que tinha na manga, de uma forma que não se tornasse enfadonha. Como os meus conhecimentos tecnológicos não são muitos, recorri ao sobrinho, que conseguiu que eu fizesse upload para esta página de dois vídeos perdidos no telefone: um filmado durante as obras e o outro feito no dia em que entrei na casa pela última vez. São um pouco longos, reconheço, e quando os fiz foi sem intenção de os partilhar daí não terem um cunho profissional. Mas quando me vi com tantas imagens em mãos e comecei a organiza-las para esta postagem, acabei por achar que para os amantes do "antes e depois", os filmes fariam bem mais sentido. Para aqueles que não têm tempo, deixo algumas fotos, sendo certo que os vídeos falam por si e demonstram bem melhor aquilo que aconteceu nos meses que os trabalhos duraram. Conheci o último casal, já muito velhinho, que aqui habitou por longos anos, muitos mesmos. E conheci também a família que mudou-se para este andar há escassos 2 meses, e cada vez me convenço mais de que as casas têm fases e acolhem. Um ciclo terminou para uns mas uma página em branco se abriu para outros que ali criarão novos afetos e novas memórias.





CASA PRÁTICA E ACOLHEDORA

10.1.22

Não é o que mais tem aparecido por aqui, nestes anos todos de blogue, mas é sem dúvida o meu tipo de post preferido: entrar em lares da vida real e registrar as ideias, as soluções, observar como cada um vive a casa à sua maneira, moldando-a mas também adaptando-se ao que ela tem para oferecer. Este apartamento em Bruxelas, e é a 5ª (ou será 6ª?) casa que a minha filha habita em 11 anos de Bélgica. É pequeno, mas bem localizado, ao lado de um parque e num bairro bem fornecido em termos de lojas. Às quartas feiras, um marché instala-se junto à praça principal, animando e perfumando as ruas com seus produtos frescos de diversas proveniências. Para se ter ideia da aldeia global em que vivemos, a dois passos da casa há uma loja de...pastéis de nata! do sabor tradicional aos mais inovadores, com recheio de chocolate belga ou speculoos. Enfim, não existem mais fronteiras nem exclusividades!

O apartamento fica num prédio com mais de cem anos, com uma arquitetura comum aos edifícios Bruxelenses da época e parece ter sido originalmente uma casa unifamiliar, a determinada altura dividida em 3 pequenas moradas para arrendamento. Laura e o namorado ocupam o 1º andar. Não é grande mas tem aquelas características que aumentam e potencializam qualquer espaço: luz natural em abundância, pé direito alto, portas grandes que dividem as assoalhadas sem as enclausurar. Se o quarto é enorme mas não tem roupeiros suficientes, nada de desespero: prateleiras e varões à vista solucionam o impasse. A sala não comporta uma mesa de jantar? sem dramas: a mesa vai para a cozinha, ganha banco com almofadas e até poltrona e luminária à cabeceira, duplicando as funções como canto de leitura. Não existe espaço para uma estante de livros? o parapeito da janela é um bom apoio. Gosto destas soluções descontraídas, que abraçam os defeitos de uma casa e transformam as partes negativas em aliadas de peso. São soluções descontraídas, sem nenhum padrão ou estilo definido mas que definitivamente tornam único, um lar.

A CASA DOS MEUS AVÓS

6.5.21

Em 2013 visitei a casa dos meus avós paternos, no nordeste do Brasil. Senti que seria a última vez que lá ia e tirei fotos de alguns elementos que mais me marcaram na minha infância e dos quais gostaria de guardar memória. Fotografei-os não por serem bonitos ou dignos de algum registo especial mas para não me esquecer das sensações que eles me causavam quando, uma vez por ano, nas chamadas "férias grandes" escolares, a minha mãe embarcava numa longa viagem transatlântica com as 3 filhas para se reunir à família. 

Na verdade ficávamos sempre hospedados na casa dos avós maternos, um casarão dos anos 50, bonito, confortável e bem decorado, curiosamente situado na mesma rua da casa simples dos avós da parte do pai. Passávamos portanto os meses de férias de verão a saltitar entre uma casa e outra. Dois mundos diferentes. Dormíamos na vivenda da família da mãe e brincávamos na casa dos pais do meu pai, que é onde estavam os mais de 20 primos que tínhamos por lá. 

Meu avô paterno tinha dado um pouco do terreno da casa a cada filho quando estes casavam (menos ao meu pai que tinha imigrado para Portugal) para que estes construíssem seus próprios lares, de modo que todos moravam porta com porta numa grande comunidade. É imaginar a alegria, a cumplicidade, as brincadeiras que emanavam daqueles 20 miúdos, ou mais, criados praticamente como irmãos. Para as minhas irmãs e eu era aterrar (literalmente) em um ambiente totalmente novo, que ao mesmo tempo nos seduzia e nos intrigava. Eles eram livres e audaciosos, nós, recatadas e tímidas. Olhando hoje para aqueles tempos, sinto que nos esforçámos para nos integrar mas não tenho a certeza que o tenhamos conseguido. Até porque o que ficou mais na minha memória não foram tanto as brincadeiras que inventávamos juntos mas as sensações que a casa sempre me passou. 

A primeira e mais importante era a falta de vidros nas janelas. Aliás nem existiam janelas. Haviam vãos que eram encerrados por venezianas, treliças, grades abertas e demais elementos vazados que permitissem arejar a habitação e enganar o calor que se faz sentir naquela região 365 dias por ano. Esta falta de fronteira entre interior e exterior era novidade para mim. Nas poucas noites que lá dormi, estar deitada na cama e ouvir os passos ou as conversas de quem passava na rua era quase perturbador. 

A casa tinha sido acrescentada ao longo dos anos, sem qualquer coerência ou harmonia nos materiais usados e era uma autêntica manta de retalhos no que diz respeito aos acabamentos. Nem sequer havia um estilo único, cada cómodo tinha sido decorado ao bel prazer de quem o ocupava. O quarto dos meus avós era muito austero, com móveis grandes e escuros e lembro que as paredes da sala ostentavam vários trabalhos feitos pela minha avó: tapeçarias e pratos pintados. Símbolos religiosos também estavam bastante presentes, o que ia muito na contramão da educação que os meus pais me davam. A parte mais recente da casa era a cozinha, móveis bem alinhados, paninhos pintados pela avó, onde os eletrodomésticos eram guardados cuidadosamente dentro de sacos, talvez para não apanharem pó lá de fora, não sei. 

Na época era tudo muito extraordinário para mim. A minha realidade era um apartamento grande e requintado no centro de Lisboa, onde minha mãe impunha suas regras espartanas e não havia lugar ao improviso. Hoje entendo esta casa, espelhava a história de vida dos meus avós: o terem vindo do província, terem acrescentado a casa à medida que a família crescia, o terem partilhado mais tarde o terreno para ajudar os filhos, a falta de vidros por razões práticas e a generosidade de manterem as portas sempre escancaradas para filhos, genros, noras e mais uma penca de netos que todos os dias entravam, saiam, dormiam, comiam e brincavam sem ter que pedir licença. Estou convicta de que, afinal, já era a tal "casa com vida" de que tanto se fala hoje em dia.


Meu avô costumava sentar-se nesta cabeceira da mesa entre as 11h30 e o meio dia, para almoçar. Para ele, o dia começava e acabava muito cedo. A porta amarela só era trancada à noite, na hora de se recolherem:

O BAÚ DO ENXOVAL

28.10.20

Em Abril último a minha sogra deixou-nos. Teve uma vida longa, um casamento pautado por muito amor, construiu uma família com valores sólidos e não fosse o desgosto de ter perdido um filho há uns anos, teria, penso eu, vivido no melhor dos mundos. Como sempre nestes casos, depois que a pessoa parte, sobra uma casa cheia de moveis e de recordações de uma vida inteira, difícil emocionalmente de desmanchar. Felizmente, não calhou a mim essa tarefa e sim à filha e esta, sabendo do meu gosto por moveis e objetos do passado, deixou que eu ficasse com aquilo que quisesse. Não trouxe tudo que gostaria e sei que talvez um dia ainda venha a lamentar, mas apesar de não me faltar criatividade, a verdade é que não tenho espaço físico para tanto nem tempo ilimitado para resignificar peças. Guardei numa arrecadação algumas coisas que, penso, ainda poderei vir a usar e quando já tinha encerrado o lote, a cunhada pediu que eu ficasse também com o baú do enxoval. Não pude recusar uma peça que conviveu cerca de 70 anos com a minha sogra e foi tão significativa em sua vida, e imaginei-a, jovem, determinada e confiante como sempre foi, a vir da aldeia para a capital, para casar com o seu mais que tudo e iniciar sua carreira de professora primária, acompanhada de uma arca pesada em sonhos e peças bordadas por ela. O baú, apesar dos anos, estava bem conservado portanto o que fiz foi apenas dar-lhe um ar mais rústico pois a arca, ultimamente guardadora de cobertores e mantas, iria ser reconvertida em móvel de TV na casa de praia, substituindo um de gosto e qualidade muito duvidosos, que um dia foi lá para casa com estatuto de temporário mas ameaçava tornar-se definitivo. A tarefa foi relativamente rápida e a transformação, tudo menos radical: livrei a peça de um verniz luzidio e alaranjado, limpei com palha de aço finíssima as ferragens e coloquei-lhe umas rodas. Sim, móvel de televisão que se preze tem que ter rodinhas, ainda mais que no verão, os sobrinhos gostam de virar a TV para o exterior e assistir futebol sentados lá fora, a curtir as noites Algarvias.

PEQUENO ALMOÇO DE FÉRIAS

19.8.20
Não sou muito boa a caracterizar-me a mim própria mas uma das verdades insofismáveis sobre a minha pessoa é que adoro acordar muito cedo, fazer exercício e a seguir sentar-me para tomar o pequeno almoço. Exatamente por essa ordem e de preferência numa mesa onde pratos e demais adereços sejam um regalo para os olhos. Claro que se durante o ano a rotina de cedo erguer e sair para correr ou ir ao ginásio é muito natural para mim, a parte do tomar o café da manhã numa mesa bonita fica mais difícil de cumprir. Difícil mas não impossível, devo dizer, e quando sobra-me tempo faço-o. No entanto durante as férias não perdoo. Adoro o dia, o nascer do sol, a claridade, a cidade que começa lentamente a acordar, e antes de sair para fazer desporto deixo a mesa já posta, sempre várias, diferentes de dia para dia, e a família já sabe que só tem que completar: comprar o pão, fazer as panquecas, espremer as laranjas, cortar as frutas, colocar o café no fogo. É para mim, a melhor e mais prazerosa refeição do dia.  É quando se conversa e com entusiasmo se tece planos para as horas de ócio que nos esperam, é quando estamos com os sentidos mais alertas e abertos às sugestões uns dos outros. Todos os anos trago na bagagem, juntamente com os biquinis e as toalhas de praia, loiças, guardanapos, talheres e outros itens que se coordenem e me permitam diversificar as tablescapes. Nestas férias fui até um pouco mais além e providenciei uns individuais de execução bastante simples mas que me permitiram unir o útil ao agradável: quase esvaziei o saco dos retalhos (quase) e todas as manhãs começámos o dia com mais cor e energia. Exatamente como é suposto se viver o verão.

UMA CASA COM CHEIRO A FÉRIAS

31.12.19
No final do mês de Novembro, viajei ao Brasil para tratar de diversas pendências pessoais, daquelas que envolvem repartições públicas e as inerentes idas e vindas por falta de documentos e papéis. Quando eu pensava que o assunto estava solucionado ou pelo menos em andamento, recebia um telefonema a pedir mais qualquer coisa e voltávamos (quase) à estaca zero. Isto para dizer que foram 10 dias bastante corridos e até mentalmente estafantes, não fosse incluir um fim de semana, em que nada podia ser resolvido e eu receber o convite de uma amiga para passarmos esses dias de ócio forçado no apartamento dela da praia. Giovanna é das minhas melhores amigas desde sempre, nossos pais já se conheciam de solteiros, nossa amizade é sólida e entre outros interesses comuns temos o gosto pela decoração e mesa posta. A única grande diferença entre nós é que enquanto eu gosto de tudo junto e misturado, ela adora combinar! E por isso achei graça trazer hoje, como última publicação do ano, a casa de praia da Giovanna, cheia de sol e luz, onde fui recebida com tanto carinho e mimada até mais não! Corais, conchas, búzios, peixes, cavalos marinhos, sereias, detalhes alusivos ao mar e com cheiro a férias numa paleta de cores que traz paz e tranquilidade!

TOALHA DE VERÃO

31.8.19
O verão este ano foi particularmente agitado com a preparação do casamento da sobrinha, evento de peso que trouxe a Lisboa grande parte da nossa família do Brasil, além dos convidados dos noivos, provenientes do Reino Unido, Estados Unidos, Austrália, Egipto...Enfim, foi como se de repente todos os caminhos viessem dar a Lisboa, com toda a logística e responsabilidade que acarreta receber tantas pessoas de fora. A família chegada foi chamada a colaborar para levar a bom porto a festa e, claro, diminuir a ansiedade e nervosismo não da noiva, mas da minha irmã. Tudo isto para explicar que os dias de ócio foram corridos, mas intensos, e que pelo meio, ainda deu para comprar tecidos floridos, juntá-los em tiras e fazer uma toalha que me permitisse sonhar que estava tudo calmo, descontraído, e o final das férias marcariam não o início da maratona de comemorações do enlace mas o retorno às rotinas. Mais desta casa de férias, podem recordar aqui e aqui. É um local que me abraça, enche-me de boas energias e que mimo com muito carinho.


TROCA DE CASA

20.5.18
A cerimónia de final de curso da filha que estuda nos EUA obrigou-nos a nova travessia do Atlântico. Numa cidade pequena, onde a grande maioria dos habitantes são estudantes (relembre aqui), em semana de graduation, os hotéis esgotam e os preços das diárias disparam. Foi em meio a essa dificuldade de encontrar um local para ficar que veio a proposta: Mary Ann, uma senhora aposentada do departamento de atletas da universidade quer conhecer Portugal e sugere uma troca de casa. A chamada home swap: combinamos as mesmas datas para as respetivas estadias e instalamo-nos. Ela em nossa casa, nós, na dela. E foi assim que, de repente, vi-me acomodada numa casa de campo nos arredores de Columbia, enquanto ela, hospedava-se no nosso apartamento no centro de Lisboa. "This will be fun for both of us" disse-nos ela. E foi. Mary Ann esqueceu o carro e galgou Lisboa toda a pé. Nós, longe de tudo, usávamos o seu truck para nos deslocarmos. E a casa? a casa representava totalmente a personalidade da dona, repleta de objetos rústicos e memórias de alguém que tinha sido criada numa farm e que se define como uma country girl.  Com uma planta tipicamente Americana, que integra cozinha, sala de jantar e estar e que se abre a um porch rodeado de verde, os nossos vizinhos mais próximos eram bois, vacas, cavalos, esquilos, coelhos, veados, pássaros, rãs e demais espécies que não consegui identificar. Impossível descrever aqui a cacofonia que faziam à noite e o agradável que era adormecer com esta trilha sonora. Uma experiência única, enriquecedora e inesquecível !

PLANOS PARA O QUARTO DAS FILHAS

16.1.18
Neste final de ano aconteceu algo sui generis lá em casa. Aproveitando a rara ocasião em que as duas filhas estavam presentes, uma vez que ambas estudam fora e é difícil coincidirem em Lisboa, dei-lhes um ultimato para que fizessem uma limpeza aos armários do quarto delas, separando a roupa que já não servisse ou quisessem. Saí de casa e disse-lhes que queria tudo limpo e organizado até ao final da tarde, quando eu voltasse do trabalho. Mas qual a minha surpresa quando ao regressar, dei com a entrada do apartamento atafulhada de sacos: as duas não só tinham separado a roupa para doação como ainda embalaram tudo o que se encontrava no quarto e que elas definiram como artigos infantis que nada mais tinham a ver com elas. Ensacaram bonecas, porta retratos, desenhos, bijuterias, CDs, livros, enfeites. E perante a minha cara de espanto, viraram o feitiço contra o feiticeiro e lançaram-me o repto: que eu me livrasse dos móveis coloridos, das secretárias de estudo que já não utilizam e lhes desse finalmente um quarto de adulto. Reivindicam madeira natural e cores neutras  (vá lá, depois de muita conversa vão deixar-me colocar um só elemento com cor) e uma zona de chill out. Eu sei que elas têm razão em pedir este refresh. São 22 anos de uma decoração que evoluiu com elas até uma certa altura mas depois parou. Parou porque elas não estavam cá. Parou por preguiça minha (confesso). Parou porque a maior parte do tempo o quarto tem estado fechado e esquecido. Planos, tenho alguns. Dúvidas, muitas. A única certeza é que quero começar por tirar o lambril de madeira verde, arranjar uma cor para as paredes na paleta dos cinzas, e tentar remodelar uma ou duas peças velhas que tenho guardadas. O resto, como sempre, confio no acaso, vai cair do céu e vai dar certo!

O quarto depois do desbaste:









CASAS DE BANHO E COZINHAS DO SÉCULO PASSADO

2.10.17
Quem me conhece sabe que eu adoro ver as casas dos outros, não por bisbilhotice mas sim por um genuíno prazer de descobrir como as pessoas ocupam e vivem os espaços. E se as casas dos outros são, ou foram, mansões e cottages do séc 20, essa minha indiscrição natural ainda se agudiza mais. Mas não se alastra a todo e qualquer ambiente. O que gosto mesmo de apreciar, são as casas de banho e as cozinhas de antigamente. Do tempo em que, quem tinha desafogo financeiro, não se confinava em espaços pequenos, o banhar-se e vestir-se era todo um ritual, e as refeições exigiam protocolo e etiqueta. As imagens a seguir foram tiradas nas famosas mansões de Newport. Newport fica no estado de Rhode Island, nos EUA, e era, nos finais do séc. 18, inícios de 19, uma cidade da elite, onde famílias influentes de Nova Iorque construíam suas casas de veraneio. Quando veio a grande depressão dos anos 20, e à medida que as famílias foram desmoronando, para evitar que as casas fossem vendidas pelos descendentes, demolidas ou transformadas em modernos condomínios, surgiu uma entidade, a The preservation Society of Newport County, que as adquiriu e mantém-nas abertas ao público. Sorte a nossa, que hoje em dia podemos comprar um passe que dá acesso a todas as casas, e com a ajuda de um guia áudio, passearmo-nos pelas histórias de vida dos Vanderbilt ou dos Astor. Banheiros e cozinhas antigas, são a minha perdição. Os primeiros porque encontramos neles peças que chamo de "intrusos" e as segundas, porque me fascinam aquelas mesas enormes centrais. Intrusos, para mim, são tapetes, cortinados, sofás, cadeiras, cómodas, quadros e todos aqueles elementos que deveriam esta na sala ou no quarto, mas estão nas casas de banho. Objetos que parecem estar fora do seu habitat natural, mas a meu ver, dão um charme imenso a um ambiente tão prático e ascético como uma casa de banho. Quanto às cozinhas, sou perdidamente apaixonada pelas mesas gigantes, de tampo de madeira ou pedra, pela proliferação de utensílios antigos e pelos armários louceiros que espalham-se pelas paredes e deixam o enxoval da casa todo à vista. E quando deambulo por estes espaços, divago e deixo a imaginação fluir. Tento conjecturar sobre as dezenas de empregados que eram precisos para manter estas casas e servir os patrões. E esforço-me também por imaginar os aristocratas, de férias, mas num ritmo frenético de formalidades e cerimoniais, quando um dia era planeado ao pormenor e havia horários rígidos para toda e qualquer atividade!

PURO ACONCHEGO

9.8.17
Claire é, numa primeira aproximação, uma senhora tradicional e discreta. Mas quando se estreita a convivência, damo-nos conta da pessoa sociável, disponível para quem a procura e cativante que está à nossa frente. E assim é também a casa de 1880 que ela própria remodelou. Num olhar mais distraído, parece-nos clássica, sóbria e igual a tantas outras da região. Mas quando entramos, o que sobressai é um estilo rústico e tão feminino, envolto numa paleta pouco óbvia de tons terra, que filtra a luz e nos dá a sensação de um abraço. A cozinha, pela sua localização central, é literalmente o coração da casa e pela manhã, despertamos com o cheiro a café e pão acabados de fazer que perfuma os ambientes. Louças de família, livros de receitas, pratos pelas paredes, souvenirs deixados pelos viajantes que por lá passam, e detalhes originais da casa, como as saídas de ar quente nos pisos, rodapés altos e molduras trabalhadas das portas e janelas, convivem em harmonia. Na sala de jantar, a peça de eleição da Claire: o antigo pé da máquina de costura atua como móvel de apoio na hora das refeições. Pertencia ao seu pai, que trabalhava nos correios e servia-se da máquina para costurar e remendar os sacos e malas de couro que serviam para transportar a correspondência. Achei curiosa, a história. Assim como achei singular receber a chave de uma casa que não me pertencia, num gesto natural e sem constrangimentos. Única recomendação? deixar os sapatos à porta!

SOUS LE CIEL DE PARIS

21.2.17
É num primeiro andar "a contar vindo do céu", com parede em pedra, vigas aparentes e porta de vidros coloridos, que mora a Zeyna. Do seu país natal, Marrocos, trouxe o colorido dos tapetes, a típica mesa baixa com bandeja de latão, bules e tajines. Mas mais do que isso, e é o que aprecio na casa de um jovem, trouxe a descontracção e a informalidade. Eu diria, a total liberdade de decorar inerente à pouca idade e ao início de vida. Uma falta de constrangimento que resulta em naturalidade: se não há molduras, as fotos vão diretamente para a parede num desenho abstrato; mesa de cabeceira não precisa existir, se há um pequeno tapete que supre as necessidades; e para que fim roupeiros fechados e sisudos se um carrinho expositor de loja os pode substituir? Na pequena cozinha, tudo à vista e à mão de semear para um quotidiano sem cerimónias. E parece que os objetos ganham o seu lugar com espontaneidade, apesar de na sala, uma planta estar estrategicamente colocada sob a luz generosa da janela. E se olharmos por essa janela? mais telhados sob os céus de Paris.

NOTA: as fotos foram tiradas pela minha filha, com o telemóvel (o que explica a pouca qualidade das imagens), num fim de semana que passou chez Zeyna.

ALMA DE COLECIONADOR

6.2.17
Quem o conhece, sabe que ele é fora do comum, com gostos requintados, algo extravagantes por vezes, eu diria. E que a sua casa é o espelho disso mesmo: do seu inconformismo, da sua ousadia e da sua sensibilidade. Ele é um viajante e um colecionador por natureza. Aprecia cerâmicas, vidros, bibelôs, bules esmaltados, moveis rebuscados. E só na casa dele é possível misturar candeeiros de cristal com ninfas, porcelanas orientais com faisões empalhados, e tudo isto fazer sentido e não cansar. Pode não ser o meu, nem o seu gosto. E pode até ser o contrário do conceito de casa vivida do qual tanto se fala e apregoa hoje em dia. Mas em tempos de abertura e queda de preconceitos, encanto-me com a excentricidade do Missael, e ele consegue sempre surpreender-me a cada vez que transponho a sua porta, mesmo eu sabendo antecipadamente que do lado de lá espera-me o improvável.


O QUARTO DOS NETOS (DO MEU PAI) NA CASA DA PRAIA

15.8.16
Durante aproximadamente 1 ano, fui reformando peças e levando-as para lá, na esperança de que no fim, tudo se coordenasse e o quarto, que por 3 décadas foi quase um depósito, se transformasse num cómodo acolhedor. Aqui, mostrei como ele estava desprezado e os planos que tinha para reabilita-lo. E finalmente, um abajur, um espelho, um oratório, uma arca, uma mesa e duas mantas depois, o quarto dos netos do meu pai na casa de praia da família, foi oficialmente inaugurado. E aprovado.

Se quiser recordar o resto da casa, é por aqui o caminho.

UMA CASA DE BRAÇOS SEMPRE ABERTOS

31.7.16
São 20 anos de amizade que começou quando as nossas filhas mais velhas conheceram-se na pré primária e nunca mais se largaram. Mais tarde, as nossas segundas filhas nasceram com poucos meses de diferença e tornaram-se também melhores amigas. A coincidência já não existiu com os terceiros filhos, se bem que é com esta família que o mais novo pede para ficar quando viajamos e não queremos deixá-lo sozinho em casa. E todos os anos por altura das férias de verão, a Maria João e o Raul tentam reunir as deles, os nossos, e mais alguns amigos do tempo da escola para um almoço. Eu digo tentam, pois nem sempre é tarefa fácil garantir que jovens sempre tão cheios de compromissos consigam estar presentes em dado dia às tantas horas. É mesmo preciso arranjar uma data com relativa antecedência, consultar os intervenientes e obrigar todos a assentar na agenda. O encontro dá-se na casa de fim de semana do casal, em que chegamos cedo para almoçar mas entre conversas animadas e mergulhos na piscina, a refeição vira lanche que transforma-se em ceia e inevitavelmente saímos sempre já noite fechada. A Maria João capricha na mesa e no cardápio e duas coisas não podem faltar: um Gaspacho de entrada e uma Baba de Camelo à sobremesa. Esta casa cativa-me, é muito usada e festejada. Aprecio a forma como elementos rústicos misturam-se com peças de design e itens com certo requinte. Gosto das alusões a África, continente que lhes está no coração, dos livros e revistas que por força da profissão dos dois, enchem estantes e espalham-se pelas mesas e da arte que se vê nas paredes. Uma miscelânea, que se funde em espaços com paredes que delimitam, mas nunca chegam até ao tecto. É uma casa aberta e cheia de luz em todos os sentidos, transponível, um convite aos amigos e à natureza. Um brinde à amizade.

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