Mostrar mensagens com a etiqueta Obras. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Obras. Mostrar todas as mensagens

REMODELAÇÃO DE UMA CASA NA VILA (PARTE II)

15.8.25

Quando há dois anos publiquei aqui o primeiro post sobre a casa, tinha a certeza de que partilharia convosco cada etapa das obras e imaginei-vos a acompanhar tudo, passo a passo. Mas depressa percebi que a realidade era bem menos emocionante: iria simplesmente postar dezenas de fotos de um “durante” sem graça de paredes que passavam de esburacadas a rebocadas e pouco mais. Decidi então esperar pelo momento certo, e ele chegou! Hoje divido convosco o resultado final da casa, com imagens do "agora" e do "antes". Excetuando as camas, um sofá e os tapetes, praticamente tudo o resto são peças recicladas por mim, provenientes das mais variadas origens: encontradas por aí, oferecidas por amigos, herdadas da família. Foram anos de um trabalho moroso e, no fim, quando tudo ficou pronto, confirmei o que suspeitava mas relutava em aceitar: que, somando o que já tinha em uso em casa ao que estava guardado na arrecadação, seria possível montar um novo lar… e ainda sobrava!

Nas próximas fotos, vou mostrar as escolhas que fiz para cada espaço e deixar os links das peças que aparecem nas imagens e que já foram destaque em publicações do blog. Espero que gostem porque ao vivo a casa transmite ainda mais originalidade, conforto, personalidade e é tão gratificante ver o resultado dessa transformação!


VIDA NOVA PARA UM APARTAMENTO SEM GRAÇA

1.7.24

Na minha vida de arquiteta acontece bastante o seguinte: entro num apartamento nem tão apertado assim, mas entupido de móveis, com os estores a deixar passar apenas uma nesga de luz e um quase nada de ventilação, e imediatamente ponho-me a imaginar como o mesmo se transformaria se o mobiliário obsoleto saísse, uma ou outra parede fosse abaixo e as persianas subissem completamente deixando a claridade entrar a rodo. Se por vezes saio desses mesmos apartamentos para nunca mais lá voltar, de outras é-me dada a oportunidade de operar essas mudanças! E quando chego ao fim de meses de trabalhos, pontuados por alguns revezes, mas também por gratas surpresas, concluo inevitavelmente que o mérito nunca é meu e sim do próprio imóvel, que ali jazia, cheio de potencial, apenas à espera de alguém que suba os estores, derrube uma parede e ouse com alguma cor. Nas próximas imagens vão ver como um andar de três divisões tornou-se num 2 quartos com sala e cozinha integrada e para aqueles que, como eu, gostam MESMO deste tipo de assunto, deixo, no final do post, plantas muito simples do antes e depois das obras para uma melhor orientação. Como extra, sugiro que espreitem aqui e aqui duas peças transformadas de propósito para esta casa. Enjoy!



REMODELAÇÃO DE UMA CASA NA VILA (PARTE I)

4.5.23

A casa foi comprada num impulso: o marido tem um carinho especial pela vila, terra dos avós e da mãe; eu deixei-me levar pelas simples linhas arquitetónicas da construção. Entre indagar quem seriam os donos, encontrarmo-nos com eles e fazermos a escritura, não sei precisar, mas foi tão rápido que de repente vimo-nos com o menino nos braços: uma casa dos anos 50, com adega e primeiro andar, num terreno que nunca mais acabava, muitas ideias na cabeça e poucas certezas. A revelação deu-se quando numa visita a casa, num dia daqueles em que se vai lá para olhar à volta e sentir o que ela pedia, vemos um alçapão no teto da cozinha e decido subir por ali para verificar o estado da estrutura do telhado. É difícil expressar por palavras a alegria que me invadiu quando a lanterna do telemóvel iluminou uma das estruturas mais bonitas que já vi em toda a minha vida de arquiteta (e creiam, já lá vão mais de 30 anos e bastante experiência em remodelações): não só as madeiras estavam bem preservadas, como traves e vigas formavam um desenho bem fora do vulgar, com os elementos em esforço convergindo para dois pontos centrais que pairavam no ar. Voltei para baixo com a convicção de que desse para onde desse, uma coisa era certa: a estrutura de suporte do telhado iria ficar completamente à vista. E foi assim que se passaram alguns anos desde o dia dessa súbita inspiração: o projeto foi desenhado, submetido e aprovado pela câmara e as obras começaram lentamente de acordo com a disponibilidade do nosso tempo e do nosso bolso também. Os trabalhos ainda estão longe de acabar, mas entre paredes atiradas a baixo, novos vãos rasgados e uma delicada pesquisa na renovação e preservação do telhado, a visão daquele dia à luz do telemóvel, com os pés cuidadosamente equilibrados em duas vigas para não pisar em falso, já se concretiza. Mesmo na confusão da empreitada, já há mais leveza no ar e toneladas de luz a invadir todos os cantos. Na minha cabeça, os espaços já se encontram totalmente acabados, aqui no blogue vou continuar a mostrá-los, em vários episódios, consoante os progressos, seguindo as minhas intuições e principalmente ouvindo o que a casa pede. 

ANTES E DEPOIS DE UM ANDAR CENTENÁRIO

15.10.22

Passei semanas a pensar como proceder com esta publicação. Remodelar andares antigos, mantendo tudo aquilo que faz parte do seu caracter e da sua personalidade é das coisas que mais me dão prazer de fazer na vida. Vivo tão intensamente todo o processo que quando este chega ao fim tenho uma dificuldade imensa em me separar das casas. Desta vez, quando a obra ficou concluída, dei por mim com centenas de fotografias e dezenas de vídeos no telemóvel, um acervo importante e interessante que relata bem todo o trabalho que foi realizado neste andar centenário. Intervenções cirúrgicas que trouxeram esta casa para o século XXI sem no entanto despojá-la da sua essência e originalidade. Fiquei sem saber como partilhar tanto que tinha na manga, de uma forma que não se tornasse enfadonha. Como os meus conhecimentos tecnológicos não são muitos, recorri ao sobrinho, que conseguiu que eu fizesse upload para esta página de dois vídeos perdidos no telefone: um filmado durante as obras e o outro feito no dia em que entrei na casa pela última vez. São um pouco longos, reconheço, e quando os fiz foi sem intenção de os partilhar daí não terem um cunho profissional. Mas quando me vi com tantas imagens em mãos e comecei a organiza-las para esta postagem, acabei por achar que para os amantes do "antes e depois", os filmes fariam bem mais sentido. Para aqueles que não têm tempo, deixo algumas fotos, sendo certo que os vídeos falam por si e demonstram bem melhor aquilo que aconteceu nos meses que os trabalhos duraram. Conheci o último casal, já muito velhinho, que aqui habitou por longos anos, muitos mesmos. E conheci também a família que mudou-se para este andar há escassos 2 meses, e cada vez me convenço mais de que as casas têm fases e acolhem. Um ciclo terminou para uns mas uma página em branco se abriu para outros que ali criarão novos afetos e novas memórias.





CENAS DE UMA SALA NOVA #2

5.7.20
E cinco semanas depois, a saga das obras na sala finalmente começa a acalmar. Primeiro foi o barulho e o pó que comemos com a demolição da lareira e a abertura do vão para o terraço (se não chegou a ver, pode recapitular aqui ). A seguir entrou em cena o estucador para rebocar a parede de onde saiu a lareira e completar a sanca do teto, mas antes dele o eletricista já tinha ido para adicionar algumas tomadas e mudar a localização da TV. Houve também necessidade de chamar o carpinteiro para completar as tábuas de piso no "buraco" que ficou sob a extinta lareira. O último a aparecer seria o afagador, mas resolvemos testar a cor das paredes e dar pelo menos uma demão de tinta antes de lixar e envernizar o chão. Portanto, neste momento, o grosso da obra está feito (thanks God) e já vou poder colocar os móveis nos seus respetivos locais e começar a arrumar tudo o que foi tirado de dentro deles ao mesmo tempo que faço uma triagem nas milhentas coisas que tenho e não uso. Ainda se adivinha muito trabalho pela frente, mas vem a parte boa e limpa: o sofá novo, as cortinas imaculadas, cadeiras a estrear para a mesa de jantar, o papel de parede colorido. Mas esperem lá, vai ser tudo novo???? Nãããooo, os móveis basicamente serão os mesmos mas em novas posições e os quadros e demais decorações serão reorganizados. Com tempo virá a estrutura de madeira para impedir a vista franca da sala a partir da porta de entrada da casa, tenho em mente pesquisar e comprar dois tapetes grandes para delimitar zona de jantar e área de estar e arranjar também um móvel para a TV. Enfim, são estas as notícias do front de obra, penámos bastante mas já se vê a luz no fundo do túnel...

Nas imagens abaixo, o estucador "remenda" a parede onde foi retirada a lareira e faz o troço da sanca do teto em falta:

CENAS DE UMA SALA NOVA #1

9.6.20
A demolição da lareira e da bancada anexa à mesma foi, durante anos, um assunto tabu lá em casa: mal eu o mencionava, o marido hiperventilava. O meu argumento era simples: livrando-me da lareira não ia ganhar muitos metros quadrados na sala, mas também não iria mais ficar condicionada por ela. Teria a possibilidade de mudar o sofá de posição, de abrir uma porta grande para o terraço e usufruir mais da vista do verde lá  fora. Enfim, seria uma lufada de ar fresco numa sala com 25 anos, que viu 3 crianças crescerem e precisava de um upgrade urgente. Os argumentos dele nunca me convenceram: era uma obra chata, havia a dificuldade acrescida de "segurar" a chaminé que vai até ao telhado do prédio, em suma, um capricho meu que em nada iria contribuir para a modernização do espaço. Foram de tal modo as discussões entre nós, que resolvi chamar uma amiga designer de interiores para mediar o casal. E deu certo! com uma voz externa a opinar, uns desenhos bonitos e acredito eu que também com uma grande dose de cansaço de me ouvir, a lareira e respetiva bancada finalmente vieram abaixo! A casa está uma confusão, o pó reina no ar, o fresco da noite entra pela janela inexistente, mas enquanto mais de 70 sacas de entulho saíam lá de casa, um peso se aligeirava nos meus ombros...
Não sei bem nem quando nem como vai acabar a obra, mas já tenho algumas certezas: o sofá (novo) vai mudar de posição, uma estrutura, provavelmente de madeira, impedirá a vista franca da porta de entrada para a sala (não tenho hall de entrada no apartamento) e cortinas fluídas irão esvoaçar quando uma brisa suave soprar.
Abaixo, fotos da sala como estava e imagens da situação caótica atual. Capítulos novos se seguirão consoante o andamento dos trabalhos.

CASA DE BANHO RENOVADA

8.2.20
Há muito que queria renovar a casa de banho dos meus filhos. O espaço atendeu as necessidades deles durante quase 24 anos, mas estava infantil, descaracterizado e até ultrapassado, com uma banheira que serviu quando eles eram crianças e brincavam no banho mas já não fazia qualquer sentido e uma sanita que dava de frente para a porta, o que me incomodava bastante. Quando comecei a obra, não imaginava bem o resultado final, apenas sabia que iria substituir a banheira por uma base de duche, abrindo assim espaço para a sanita mudar radicalmente de lugar e também queria tornar tudo mais fluído. Uma casa de banho com pouca cara de casa de banho e sem muitos elementos pesados agarrados às paredes, de modo a que, em caso de enjoo, não fosse preciso "partir" tudo novamente. Claro que também não esqueci que tenho duas filhas e um rapaz e que este não estava muito a fim de circular num ambiente feminino.
Quando tudo ficou pronto, a minha sobrinha, talvez influenciada pelo tom terra que escolhi para o micro cimento aplicado nas paredes e no piso, achou que a casa de banho adquiriu um earthy look.  A verdade é que tentei misturar elementos cromados e acessórios de linhas contemporâneas com outros mais naturais e que a última coisa que eu pensava era colocar um móvel de apoio alto e escuro. No entanto, sem ter achado nada que me satisfizesse (apesar de ter sido persistente na procura) era este que estava disponível na arrecadação e, meia contrariada, acabei por lhe dar uma chance. Calhou até bem porque sobre ele arrumei umas plantinhas e conto com a janela no teto para que a luz natural e o sol que incide nesse preciso local nos meses de primavera e verão assegurem a subsistência da mini micro urban jungle.
Qualquer projeto, por mais pequeno e simples que seja, tem sempre um elemento que se torna o preferido, e neste caso, para mim, foi o conjunto de cabides de parede, que atendem pelo nome de Dots, que coloquei junto ao espelho. São tão pouco óbvios que, quem entra, fica na dúvida para o que servem...


TRANSFORMAR SEM ADULTERAR #2

14.1.20
Há praticamente 1 ano, mostrei-vos imagens de alguns "depois e antes" (sim, nessa ordem) de um projeto que estava a finalizar. Na altura a minha ideia era, passado algum tempo, exibir mais fotos que julgava eu, poderiam ser interessantes. Mas os meses voaram, a unidade em questão entrou em funcionamento, minha cabeça voltou-se para outras paragens e a intenção ficou por concretizar. Mas como nunca é tarde, penso que as adaptações da entrada do edifício, o destino da antiga cabine de elevador, a revitalização da escadaria central, as soluções encontradas para os corredores assim como a manutenção de móveis existentes nos pisos, originando quartos únicos, podem ser aspetos que vos inspirem de alguma forma. Preparem-se então para uma longa visita virtual...

No pórtico da entrada houve a preocupação de se anular os degraus existentes:

TRANSFORMAR SEM ADULTERAR #1

30.1.19
Nos últimos 2 anos tenho estado ligada à conversão de um edifício de habitação do início dos anos 60 em alojamento local. Tem sido um trabalho bastante intenso e desafiante o de transformar andares de 600 m2 (sim, 600, leram bem!) que foram construídos para famílias abastadas, com tudo o que havia de melhor e mais requintado à época, em 105 quartos consentâneos com a realidade atual e que cumpram as infindáveis regras do turismo. Como sempre, a palavra de ordem é manter, manter e manter, tudo o que de original o prédio tem. Desde às várias lareiras que existem nos pisos, às estantes que faziam parte das bibliotecas, aos pisos de madeiras exóticas vindas de África, às casas de banho austeras em pedra de alto a baixo, aos frescos que decoravam algumas das casas. Não vou ser exaustiva, pois não quero cansar quem me lê, e além do mais, as fotos dos "depois e antes" (eu prefiro essa ordem) são bem expressivas, apesar de nem sempre terem sido tiradas dos mesmos ângulos. Dois anos depois de ter começado a obra, parece que o fim está a vista, e a inauguração da unidade, para breve, e apesar da excitação para ver o produto acabado ser grande, o fato é que vou ter saudades. Este tipo de trabalho, de respeito ao património, de contornar o existente, trazendo-o para a atualidade sem desvirtua-lo, é sem sombra de dúvida o que mais gosto de fazer como arquiteta. Por trás destes ambientes, que foram fotografados por um profissional para a divulgação do alojamento, estão muitas pessoas que trabalharam junto comigo, das mais diversas áreas, com quem muito aprendi e cresci. Hão de reparar que coloquei no título deste post um #1, pois ainda quero mostrar-vos daqui a algum tempo, a transformação das partes comuns, da fabulosa escadaria central à pequena e charmosa cabine de elevador, que por ser tão diminuta, mudou de funções. Impossível mostrar ou explicar aqui todos os detalhes e pormenores interessantes que pautaram este trabalho, mas fiquem com uma ínfima parte que consigo partilhar, penso que vão gostar. Quem conhecer Lisboa, vai, na última foto, reconhecer o local e, se voltar a passar pela zona, consegue com certeza identificar o prédio.

A antiga sala de jantar, com lareira e nichos:

O DEPOIS E O ANTES DE UMA COZINHA

30.8.18
Ao escrever este post dou-me conta que boa parte do meu ano de 2018 foi passado a recuperar esta casa, mas que finalmente, acabou! Deu trabalho, houve muito investimento pessoal por ter sido eu própria a restaurar boa parte dos móveis, a encerar todas as portas e a pintar alguns elementos, que por serem corriqueiros não cheguei a mostrar aqui. Mas está pronta! E ao vos mostrar a cozinha, dou por encerrado este capítulo e espero poder voltar em breve à máquina de costura (parada desde Abril) e a postagens mais diversificadas. O processo de tornar esta cozinha mais consentânea com o estilo de vida atual sem contudo desvirtuá-la dos seus elementos originais, trouxe alguns desafios: foi preciso arrancar o móvel da parede e adaptá-lo ao novo espaço (leia como, aqui), deslocar a bancada, torná-la mais larga e recolocá-la numa posição mais alta para permitir que a máquina da loiça caiba em baixo e, pasme-se, sair à procura de um lava loiças em pedra que substituísse aquele que eventualmente existiu na casa mas, por alguma razão que desconheço, havia desaparecido. Aquilo que mais gosto quando intervenho num andar velho é que a remodelação seja coerente com a época de construção da casa. E, modéstia à parte, acho que consegui.

CASA DE BANHO COM BANCADA EM STENCIL

20.8.18
Um erro do empreiteiro da obra (leia-se, marido) que trocou as cores dos azulejos que eu tinha definido para cada casa de banho, e consequentemente, a cor da massa de microcimento aplicada no piso e paredes, fez com que pela primeira vez na vida eu tenha acabado com um ambiente totalmente tom sobre tom! Na altura fiquei bem chateada, não tanto pela troca das cores (nisso, eu daria um jeito) mas mais pela incapacidade dos homens de reterem na cabeça mais do que uma tarefa. No entanto, no decorrer da obra, fui-me apercebendo que as paredes casavam com o móvel, que este ornava com a janela, que esta última combinava com a porta, e que tudo junto, somado à luz natural de fim de tarde que entra abundantemente, tinha lá o seu encanto, apesar de eu, pessoalmente, precisar de um pouco mais de contraste para me sentir estimulada. Agradou-me de tal forma o conforto de jogar com o similar que quando, em viagem a Bruxelas, avistei pelo vidro da montra, dois cabides de parede com acabamento ferrugem, fiquei com a certeza que o local ideal para a dupla seria naquela casa de banho, cor de areia da cabeça aos pés. A bancada, que eu mostrei aqui, depois de passar largos meses em espera na sala lá de casa, foi com saudades que lhe disse adeus!

CASA DE BANHO COM BANCADA DE PÉ DE MÁQUINA

11.8.18
Finalmente o pé da máquina de costura que mostrei aqui assumiu com louvor as suas novas funções, numa despensa transformada em casa de banho.  Ele agora serve de base a um lavatório de pousar num espaço feito como gosto: com elementos que não combinam necessariamente, mas se coordenam; com materiais que tiveram outras vivências e com as características de época da casa, mantidas. Nos pormenores, outros dois itens que não dispenso: luminárias pendentes e cabides de parede. As imagens não são as melhores porque o espaço é estreito e a luz, artificial, mas cumpre o objetivo: levar-vos a não terem medo da mistura pois é quando elementos diversos se encontram e se destacam que a originalidade surge!

BELEZA SEM RETOQUES

12.11.17
Sempre hesito muito antes de publicar no blog os trabalhos que faço profissionalmente. Mas depois que os mostro, a onda de curiosidade em relação a conservação e restauro e a chuva de emails com perguntas sobre estes assuntos são tão grandes por parte de quem me lê, que acabo por me convencer que sim, que quem passa por aqui, tem um genuíno interesse por reabilitação de casas usadas pelas pessoas e pelo tempo. Esta intervenção foi especial, não tanto pelo apartamento em si, (sim, ele é lindo, mas estou habituada a isso, 99,9 % do meu trabalho como arquiteta é em remodelações) mas pelo que pude descobrir depois que levantei o linólio que cobria o piso da cozinha, raspei a tinta do interior da chaminé ou desmontei a parede que dividia duas salas. Por baixo do linólio, revelou-se um chão de madeira interrompido aqui e ali por mosaicos hidráulicos, num patchwork surpreendente. Sob a camada de tinta, apareceram delicados azulejos antigos. E quando descasquei cuidadosamente a parede, surgiu uma estrutura linda, de madeira, como se de um biombo se tratasse. Belas surpresas, que me levam a pensar que é um privilégio trabalhar nesta área, e uma responsabilidade acrescida deixar à vista uma beleza nua e crua, com marcas e defeitos. Sem disfarces.

CASAS DE BANHO E COZINHAS DO SÉCULO PASSADO

2.10.17
Quem me conhece sabe que eu adoro ver as casas dos outros, não por bisbilhotice mas sim por um genuíno prazer de descobrir como as pessoas ocupam e vivem os espaços. E se as casas dos outros são, ou foram, mansões e cottages do séc 20, essa minha indiscrição natural ainda se agudiza mais. Mas não se alastra a todo e qualquer ambiente. O que gosto mesmo de apreciar, são as casas de banho e as cozinhas de antigamente. Do tempo em que, quem tinha desafogo financeiro, não se confinava em espaços pequenos, o banhar-se e vestir-se era todo um ritual, e as refeições exigiam protocolo e etiqueta. As imagens a seguir foram tiradas nas famosas mansões de Newport. Newport fica no estado de Rhode Island, nos EUA, e era, nos finais do séc. 18, inícios de 19, uma cidade da elite, onde famílias influentes de Nova Iorque construíam suas casas de veraneio. Quando veio a grande depressão dos anos 20, e à medida que as famílias foram desmoronando, para evitar que as casas fossem vendidas pelos descendentes, demolidas ou transformadas em modernos condomínios, surgiu uma entidade, a The preservation Society of Newport County, que as adquiriu e mantém-nas abertas ao público. Sorte a nossa, que hoje em dia podemos comprar um passe que dá acesso a todas as casas, e com a ajuda de um guia áudio, passearmo-nos pelas histórias de vida dos Vanderbilt ou dos Astor. Banheiros e cozinhas antigas, são a minha perdição. Os primeiros porque encontramos neles peças que chamo de "intrusos" e as segundas, porque me fascinam aquelas mesas enormes centrais. Intrusos, para mim, são tapetes, cortinados, sofás, cadeiras, cómodas, quadros e todos aqueles elementos que deveriam esta na sala ou no quarto, mas estão nas casas de banho. Objetos que parecem estar fora do seu habitat natural, mas a meu ver, dão um charme imenso a um ambiente tão prático e ascético como uma casa de banho. Quanto às cozinhas, sou perdidamente apaixonada pelas mesas gigantes, de tampo de madeira ou pedra, pela proliferação de utensílios antigos e pelos armários louceiros que espalham-se pelas paredes e deixam o enxoval da casa todo à vista. E quando deambulo por estes espaços, divago e deixo a imaginação fluir. Tento conjecturar sobre as dezenas de empregados que eram precisos para manter estas casas e servir os patrões. E esforço-me também por imaginar os aristocratas, de férias, mas num ritmo frenético de formalidades e cerimoniais, quando um dia era planeado ao pormenor e havia horários rígidos para toda e qualquer atividade!

CASAS VELHAS FAZEM-ME SORRIR

9.4.17
Algumas vezes perco a vergonha e mostro no blog trabalhos que faço profissionalmente. Geralmente, são remodelações de apartamentos velhos e devolutos há vários anos. Pouca gente entende esta minha atração por entrar em espaços escuros, sujos e degradados, mas creiam, quanto mais deteriorada e abandonada estiver a casa, mais me sinto desafiada. Se tiverem potencialidade (e raramente não têm) consigo visualizar os espaços acabados quase que imediatamente na minha cabeça. Não vou aqui entrar em detalhes técnicos (e houve muitos nesta obra!) pois o meu objetivo não é ensinar-vos nada e sim e tão apenas inspirar-vos e sensibilizar-vos para andares antigos e cheios de personalidade que existem por aí, só à espera de serem descobertos. O apartamento que vão ver a seguir, é muuuito pequeno, com algum otimismo pode-se dizer que terá uns 30m2. Não tinha casa de banho. A sanita, ficava na cozinha. Sim, leram bem, na cozinha. Ele hoje parece novo, mas o interessante é que as marcas do tempo permanecem: nas portadas que não fecham bem porque estão empenadas, na pedra da chaminé que foi descascada e revelou suas falhas, nas bandeiras das portas ligeiramente inclinadas devido à estrutura do prédio que em algum momento da sua longa existência, cedeu.
Um detalhe que adoro é a janela da cozinha. Nada de abrir para um espaço lindo e cheio de luz, se espreitar por ali, são as escadas do prédio que vai ver! São estas surpresas, impensáveis nos dias de hoje, que me cativam. Para as fotos, trouxe alguns adereços de casa. Já expliquei aqui que o meu trabalho acaba no fim das obras, e que é muito raro eu ter acesso à casa depois de habitada. Então carrego objetos meus para que quem lê possa ter alguma noção do espaço. Aaaah, quando eu fechar pela última vez a porta desta casa de bonecas, vou ter saudades da mini cozinha, da pequena casa de banho e dos cómodos diminutos!

UMA CASA COM VISTA

28.1.15
Sempre que leio entrevistas com atores, estes afirmam ser um privilégio a sua profissão, pois ela lhes permite encarnarem temporariamente outras pessoas, e viverem muitas e diferentes situações de vida numa só vida. Na minha profissão de arquiteta acontece uma coisa parecida: quando me encontro num processo de reabilitar uma casa, vivo nela e com ela durante um tempo. Difícil, é vê-la partir. é aperceber-me que alguém a comprou e aqueles espaços já não me pertencem, apesar de eu saber, desde o início, que a minha missão ali acaba quando tudo retoma o antigo brilho. A partir desse momento, o papel passa para outras pessoas, que se enamoram da casa, que a adquirem, que se apoderam e ocupam cada canto, em suma, que a vivem à sua maneira. Custou-me muito fechar a porta desta casa pela última vez. Deixar para trás a vista linda com a qual se dá de caras mal se entra, e o sol e a luz que inundam os ambientes sem pedirem licença. Não é com certeza a melhor casa do mundo, mas é diferente, tem pormenores que me encantam e uma sala única que ocupa um torreão debruçado sobre a cidade. Resta-me o consolo de durante uns tempos ter morado ali. Ainda que virtualmente.

SAÍDA DOS ANOS 50

7.3.14
Na minha profissão de arquiteta, as remodelações são o que mais gosto de fazer.
É a oportunidade de devolver à casa, a atmosfera e o ambiente da época da sua construção.
E quem me acompanha nestas andanças, sabe que o original é sempre para manter, mesmo que isso acarrete mais trabalho, mais gastos, menos algum conforto futuro. No final, compensa.
São casas que depois de remodeladas, não servem para qualquer pessoa, e sim para quem sabe aceitar e até admirar, as imperfeições e as marcas do tempo.
Vou vos deixar com a cozinha desta casa dos anos 50, que é quase sempre a parte mais interessante de um antes e depois, e lá mais para baixo, verão outros ambientes do apartamento. Como já disse aqui, infelizmente, é raro eu ter acesso às casas depois de ocupadas, o que me impede de mostrá-las como eu gosto, já com cara de lar. Para fotografar a cozinha, ainda levei uma grande tigela de limões, tinham mos dado nesse dia, e eu achei que poderia trazer alguma cor e humanizar as imagens. Mas em termos de produção, foi o máximo que consegui fazer!




HOJE,O RESTO DA CASA

1.6.13
Quem acompanha o blog já conheceu a cozinha.Agora,para os mais curiosos,vem o resto da casa.
Não fiquei contente com a resolução gráfica das plantas abaixo,mas ainda não arranjei maneira de as apresentar com uma imagem mais clara e agradável,vou tentar melhorar este ponto.
De qualquer forma,e mesmo sem grande qualidade,penso que ver a planta do andar,sempre torna a explicação das obras mais elucidativa.

Grosso modo,as duas grandes transformações,além da cozinha,foi a construção de uma nova casa de banho no espaço de uma despensa e a inversão da única casa de banho existente para o quarto,de modo a fazer uma suite.O resto,e se fizerem o jogo das 7 diferenças entre uma planta e outra,vão se aperceber que foram só mudanças pontuais:eliminação ou troca de local de algumas portas;outras que abriam para fora e trocaram de sentido.Enfim,coisas banais,mas que melhoram drasticamente a vivência diária.
Comecemos pela entrada:
E já que vimos acima a porta da única casa de banho que havia na casa,entrem,e vejam como ela estava e no que se transformou:
O piso é um patchwork de mosaicos hidráulicos o que além de original revelou-se uma boa opção por 2 razões:Como comprei literalmente os restos que estavam na loja,não tive que encomendar e esperar semanas que chegasse o material.E justamente porque eram sobras de outras encomendas,o fornecedor,para se ver livre das caixas de 1m2 de vários padrões que dificilmente iriam servir para algum trabalho,fez-me um preço super especial.Mais complicado,foi conjugar os desenhos e as cores,virtualmente,no meio da loja,sem poder abrir tudo e espalhar à vontade no chão.Mas pensando bem,essa é a parte em que a criatividade é chamada e a imaginação testada.
Acontece que a família que morou durante 5 décadas nesta casa,utilizava a assoalhada de trás como sala.Se observarem lá em cima,na planta do antes,existia até uma passagem deste cómodo para a marquise e consecutivamente para a cozinha,com certeza para facilitar o serviço na hora das refeições.Portanto construíram aí,uma lareira,de gosto bastante duvidoso e que francamente,penso que apesar de ter uma fuga,nunca conseguiu funcionar.
Como no meu projeto,esta sala,virou a suite da casa,surgiu a questão:a lareira fake,fica ou desaparece?Garanto-vos que foi motivo de polémica.Mas ficou.Quem mora nesta casa hoje,tem uma lareira no quarto.Não funciona,mas é um sonho de consumo para muitos...
E o que a família utilizava como quartos,transformou-se em sala de jantar:
E sala de estar.Sem grande alardes,pois estava tudo lá,só à espera de ser valorizado:o pé direito com mais de 3 metros,a vistosa sanca do teto,o rodapé alto,o soalho,as portas em casquinha.
Outro dos quartos existentes na casa:
E finalmente a casa de banho que foi feita de raiz,no local da antiga despensa,com a janela que dá para a cozinha,e que tal como a lareira também gerou discussão durante a obra.Porque a verdade é que uma pessoa com mais de 1,60 e pouco de altura,não consegue  ver a sua cara no espelho.Mas pensando pela positiva,de manhã,certos dias,isso até que é uma grande vantagem.
Zoom in em alguns pormenores...


HOJE,SÓ A COZINHA

24.5.13
Vocês já perceberam que eu atrevo-me a dar receitas,sem ter jeito nem para fritar um ovo.Que ataco de crafter mal sabendo enfiar a linha na agulha.E ainda corro,nado e pedalo diariamente,mas  estou longe de ser atleta.
Na vida real,sou arquiteta.That´s what I do for living.Gosto de ter os pés metidos no pó,no barulho,no movimento e no imprevisto.
Quanto mais a casa estiver velha e degradada,melhor.Maior é o desafio de recuperar os elementos de época,nem sempre evidentes, e maior o estímulo para arranjar soluções que,sem colidir com  a alma da casa,permitam trazer o conforto e alguma da modernidade dos nossos dias.
Quem me acompanha numa obra já sabe:quando as decisões dependem só de mim,tudo é para manter.Mesmo se certas soluções não vão ao encontro do gosto comum ou possam suscitar discussões.

A casa que vão ver abaixo,foi uma das que mais tive satisfação em intervir.Para não maçar,hoje vão ficar só com a cozinha.Plantas do antes e depois e outros ambientes virão no próximo post. 

Quando entrei,a cozinha ( e o resto da casa) estava num estado deplorável,e acreditem,até ao dia anterior a estas fotos,tinha lá estado a viver uma família.
A cor que imperava em todo o espaço,era esse amarelado de gordura.Nunca consegui identificar qual teria sido a cor original dos móveis e das paredes.Infelizmente a bancada e os armários inferiores,estavam irrecuperáveis. 


A bancada nova poderia ter continuado até à parede do fundo,decisão lógica.Mas encontrei na casa esse sideboard dinamarquês,em ótimo estado,e achei que lacado de lilás ele poderia continuar a morar por lá.
Em baixo,a cozinha,vista da marquise,final de obra,limpeza feita. As portas foram decapadas como já fiz noutros trabalhos, gosto mesmo de ver os veios e os nós das madeiras.
A janela para a qual chamei a atenção lá em cima:tinha uma rede para ventilar uma despensa contigua à cozinha. Essa despensa foi transformada em casa de banho.Deixei a janela no seu estado original,sem tocar no aro e guarnição,que ficaram na cor que eu tinha encontrado a cozinha.Quem entra hoje na casa,pensa que é um trabalho de patine feito de propósito.Mas não.Ficou como um testemunho dos anos de descaso.Pormenor no aro,em baixo à esquerda:marca de uma tomada de luz.
O móvel superior é o mesmo.As portas estão ao natural,com vidro e puxadores novos.
Alguns pormenores:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
Web Analytics