DE MÓVEL CONTADOR A CÓMODA ALTA

11.10.24
Há uma característica em mim que considero um defeito, não é grave mas por vezes, ao contrário do que à priori se possa pensar, limita-me: nos meus trabalhos, sejam eles qual forem, não gosto de repetir cores, padrões, blocos (no caso do patchwork) ou processos. O que me agrada é a novidade, o tentar algo diferente, aprender novas técnicas, ou seja, por mais contraditório que pareça, o desconhecido não me assusta, o que me desmotiva mesmo é a segurança daquilo que já conheço. Isto para dizer que repetir a mesma cor em dois moveis diferentes parece-me redutor e sem criatividade, mas desta vez não tive escolha: a lata de tinta pela metade jazia na dispensa, era exatamente o tom que se encaixava no contexto onde iria ficar o móvel e last but not least, existia o fator pressa que não me permitia grandes divagações nem inovações. No fim do trabalho, agradou-me a forma como ficou a peça, apesar de apenas ter levado um belo banho de chalk paint Paprika red (sim, aquela já usada aqui) e de ter sido completamente despido da over dose de ferragens barrocas que ostentava, dando lugar a uma mão cheia de puxadores minimalistas. Gavetas forradas nos mesmos tons e eis que surge uma cómoda, na minha opinião, bastante vistosa e cheia de personalidade, pois o vermelho, por mais que se queira, não consegue deixar ninguém indiferente!

NEW LOOK PARA CADEIRA ENCONTRADA NA RUA

9.9.24

Parece que a minha sorte de esbarrar em peças interessantes na rua estendeu-se ao marido, que um belo dia apareceu-me com esta cadeira em casa. A peça estava extremamente ressecada e com o estofo tão imundo que ele próprio calçou umas luvas e tratou de arrancar o assento, não fosse este estar infestado de bichos. O que me encantou na cadeira desde o primeiro momento, foram as suas curvas que me remeteram de imediato à estética dos moveis Thonet que tanto gosto. Uma sinuosidade suave que lhe confere uma personalidade ímpar. O processo de restauro foi simples mas um tanto ou quanto trabalhoso: Numa primeira fase tratei de arrancar o resto de estofagem que ainda permanecia e extraí da cadeira seguramente mais de 200 pregos que tinham servido para agarrar assento e encosto à estrutura. Seguiu-se uma segunda etapa onde lixei a madeira até à exaustão. Depois destas tarefas, tratei de consertar as mazelas que felizmente eram poucas: colar aqui e ali e disfarçar dois defeitos nos braços. Veio o acabamento que é sempre a parte melhor e mais relaxante e apliquei-lhe uma goma laca que lhe conferiu um tom mel lindíssimo. Por último foi escolher um tecido que realçasse mais ainda a beleza da cadeira e optei por um de padrão geométrico com um ar a lembrar o art deco e que, na minha opinião, foi a cereja no topo do bolo!

Carácter, individualidade, originalidade e presença seriam as palavras que eu usaria para descrever esta cadeira. Adicionaria ainda, conforto!

BANCO VIRA MESINHA DE CABECEIRA COM CANDEEIRO INCORPORADO

5.8.24

Duas situações inspiraram-me para a transformação de mais um banco antigo de cozinha: a sorte de volta e meia choverem banquinhos na minha horta e o fato de precisar desesperadamente de uma mesa de cabeceira que coubesse num vão de 30 cm. Depois de navegar horas a fio em lojas online à procura de algo pequeno que não só preenchesse o espaço em causa, mas também conferisse ao ambiente uma ideia de conforto, estilo e criatividade ao deitar (sim, sou exigente), lembrei-me de 3 bancos, coçados e gastos, que jaziam há tempos na arrecadação. Quando comecei a trabalhar num deles, a minha ideia era ser eu própria a eletrificar o banco, mas cedo vi que tal empreitada tinha dois problemas: levaria um tempo de projeto e execução que eu não tinha e nada me garantia que fosse bem sucedida na intensão. Passei então para um plano B que no final revelou-se bem simples: decapei o banco e abracei a sua madeira natural assim como todas as suas imperfeições e rusticidade. E como recuei na pretensão de me estrear como eletricista, comprei aqui um candeeiro lúdico e divertido, que parece estar sentado em equilíbrio periclitante, mas na realidade foi aparafusado ao tampo. Personalizei-o com um abajur mais colorido e.....nada mais! o resto é brincar com as perninhas do boneco que servirão para apoiar óculos, o livro da vez ou o telemóvel.

VIDA NOVA PARA UM APARTAMENTO SEM GRAÇA

1.7.24

Na minha vida de arquiteta acontece bastante o seguinte: entro num apartamento nem tão apertado assim, mas entupido de móveis, com os estores a deixar passar apenas uma nesga de luz e um quase nada de ventilação, e imediatamente ponho-me a imaginar como o mesmo se transformaria se o mobiliário obsoleto saísse, uma ou outra parede fosse abaixo e as persianas subissem completamente deixando a claridade entrar a rodo. Se por vezes saio desses mesmos apartamentos para nunca mais lá voltar, de outras é-me dada a oportunidade de operar essas mudanças! E quando chego ao fim de meses de trabalhos, pontuados por alguns revezes, mas também por gratas surpresas, concluo inevitavelmente que o mérito nunca é meu e sim do próprio imóvel, que ali jazia, cheio de potencial, apenas à espera de alguém que suba os estores, derrube uma parede e ouse com alguma cor. Nas próximas imagens vão ver como um andar de três divisões tornou-se num 2 quartos com sala e cozinha integrada e para aqueles que, como eu, gostam MESMO deste tipo de assunto, deixo, no final do post, plantas muito simples do antes e depois das obras para uma melhor orientação. Como extra, sugiro que espreitem aqui e aqui duas peças transformadas de propósito para esta casa. Enjoy!



A CAIXA DE AMEIXAS

27.4.24

A pessoa que me entregou a caixa, não sabia exatamente qual teria sido um dia o seu conteúdo, apenas disse-me que "estava lá por casa há anos", bastante mal tratada e que talvez eu conseguisse de alguma forma recupera-la. Depois de meses a cuidar do baú, uma peça pesada e difícil, que me obrigou a trabalhar dobrada em duas e de joelhos no chão, a perspectiva de ter entre mãos algo de pequeno porte e fácil manuseio era algo bastante apelativo para mim. Levei então a caixa para a oficina que frequento semanalmente, um espaço de aprendizagem mas principalmente de interação e partilha entre pessoas que têm um mesmo prazer em revitalizar objetos de outros tempos. E foi lá que fiquei a saber, pelos colegas menos jovens, que uma fábrica de Elvas, que produzia ameixas em compota mas também ameixas doces secas, utilizava estas caixas para embalar os seus produtos. As ameixas secas vinham delicada e requintadamente acondicionadas nestas caixas de madeira depois de terem sido embaladas num fino papel rendilhado. Ou seja, um primor e um refinamento muito difícil de se encontrar hoje em dia. O invólucro era de tal forma importante para estas casas comerciais, que cada produtor da zona tinha o seu próprio modelo de caixa de madeira assinada. Uma elegância que se perdeu nos tempos, infelizmente! A minha intervenção na caixa foi cirúrgica: limpa-la o mais possível das manchas que enfeavam a tampa, arranjar um canto partido e no final, cera num tom alaranjado para lhe devolver  a distinção de outrora!

 

CELEBRAR A PÁSCOA

31.3.24

Páscoa pede uma mesa colorida e recheada de doces. E à volta dela, a família reunida. Para festejar a primavera, que chegou tímida ao hemisfério norte, mas acima de tudo para celebrar a alegria do renascimento e do recomeço. Uma santa Páscoa é o que desejo a todos aqueles que por aqui passarem!

BANQUINHO COM PINTURA ORGÂNICA

14.3.24

A chamada pintura orgânica é uma tendência recente de decoração de paredes e moveis que sempre chamou a minha atenção. Como sou muito imediatista nos meus projetos, perdendo pouco tempo na conceção dos mesmos, nada melhor do que uma proposta criativa que permite o desenho de formas livres, sem moldes ou figuras perfeitas. Em suma, uma arte sem regras que apenas pede harmonia nas cores e traço solto. Mas se por um lado gosto de ousar e experimentar técnicas novas, por outro prefiro testar em peças pequenas que não requeiram grande responsabilidade, que é como quem diz, em caso de falhanço, fica mais fácil lidar com a frustração. A escolha recaiu então sobre um banco de personalidade forte que levou uma vida de superação: décadas ao serviço da patroa na cozinha; meses aos caídos em meio das obras do andar onde foi encontrado; e um ano à mercê das intempéries na pequena varanda desse mesmo andar. Um banquinho com tal resiliência merecia que alguém o olhasse com carinho! O material usado, foi o que tinha em casa: restos de tinta chalk paint e um marcador acrílico que havia servido para outras situações. A técnica, adaptei de alguns tutoriais que assisti: comecei por traçar as formas que pretendia, a lápis, sobre o assento do banquinho, pintei-as com as cores disponíveis, fiz um ligeiro decapé e finalmente, com o marcador acrílico, desenhei os elementos vegetais. Para selar o todo, duas demãos de cera incolor. Tudo na maior descontração e sem grandes pretensões. Foi um bom treino para uma primeira vez, e deu-me vontade de arranjar uma peça diferente do banco, com superfícies maiores, onde possa brincar mais com o tamanho das formas e dos desenhos. Enquanto isso não ocorre, fiquem com o velho banco, de vida sofrida mas resistente, de volta ao andar onde sempre habitou, mas agora, com incontáveis oportunidades pela frente.

BAÚ PAPRICA

11.2.24

Algumas vezes perguntam-me de onde tiro a inspiração para transformar moveis e objetos e eu costumo responder que a inspiração vem de todo o lado. E quando o digo, de facto sublinho: de todo o lado mesmo, literalmente. E a prova disso é este baú, que acabou por ganhar cor avermelhada e nome de condimento simplesmente porque no catálogo, a referência da tinta tinha uma sonoridade que não só me agradava como também remetia a um certo exotismo: paprika. E na incerteza do que fazer com o baú depois de me ter apercebido que originalmente, ele tinha um tecido maravilhoso, às riscas, mas que este havia sido pintado e era impossível lixar a tinta sem desfazer o pano já fino e gasto pelos anos, fui de fato pelo caminho de dar-lhe uma roupagem completamente distinta, com uma cor chamativa e um interior surpreendente: surgiu então a chalk paint Paprika Red pelo lado de fora e o tecido adesivo da Glu, lá para dentro. Uma parceria perfeita, que me levou a ficar com esta mala de porão, que certamente tantas viagens fez e tantas prendas transportou, aberta na sala lá de casa, só para apreciar o casamento feliz entre cor e padrão. Isto, é claro, enquanto ela não se muda definitivamente para a casa da vila que apresentei aqui. Até lá, vou lavando a vista...

MOVEL EM MADEIRA TRABALHADA GANHA NOVA ROUPAGEM

9.1.24

Em meados do ano passado recebi de uma instituição centenária em extinção, da qual eu fazia parte, boa parte do mobiliário da sua sede. Uma herança um tanto ou quanto pesada, no sentido literal do termo, uma vez que me obrigou a encontrar um local para guardar o recheio, mas também um legado bastante desafiante, pois irá obrigar-me a dar largas à imaginação se quiser modernizar as peças, continuando a respeitar a história que elas encerram e que eu tão bem conheço. A primeira que transformei, foi um móvel que em minha opinião encaixava-se como uma luva no local que eu tinha em mente, mas cujo trabalhado da madeira, além de lhe dar um ar sisudo e carregado, não realçava. Optei por dar-lhe uma cor mostarda e no caso usei tinta chalk paint cor Arles da Annie Sloan que é cara, reconheço, mas das tintas deste tipo que já utilizei, é sem dúvida a que tem melhor cobertura e evita duas etapas estafantes: lixar e dar primário. Além do que, as cores são só fabulosas! Perdi a conta de quantas voltas dei à peça e em quantas posições me coloquei para conseguir alcançar todos os cantos e retorcidos. Usei também vários tamanhos de pincéis e apliquei umas quantas demãos. Digamos que foi um trabalho em que arrisquei mas que depois de pronto encheu-me de orgulho. No final, dois pequenos detalhes, que não parece mas fazem uma certa diferença: tassels pendurados nas ferragens e tecido autocolante no interior. E aí o têm, de roupagem nova, saído de um ambiente taciturno para uma casa renovada e cheia de luz que pode ver aqui.

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