CHICAGO

A 2ª vez que ouvi falar sobre Chicago, terá sido no cinema, nos filmes de gansters. A 3ª, já na faculdade, quando se estudou a obra do arquiteto Frank Lloyd Wright. Mas a 1ª foi pela boca da minha avó, que contava aos netos uma piada considerada imprópria para crianças educadas. Era a seguinte:

Um japonês encontrava-se num avião a atravessar a América, dirige-se à assistente de bordo e pede: "senhola, pol favol, avise-me quando estivelmos soblevoando Nova Iolque!".

A assistente assim faz e ao passar sobre Nova Iorque, procura o Japonês, que no momento se encontrava na casa de banho. Bate na porta e avisa: "Senhor, estamos sobre Nova Iorque". Ao que o asiático responde: "Obligado, mas agola, estou vendo chi cago!". Era a risota geral, minha avó espantada com sua própria ousadia e minha mãe furiosa por as filhas estarem a aprender "nomes feios".

Pois bem, foi com a minha avó no pensamento e muita expetativa na bagagem que desembarquei numa Chicago supostamente na primavera, mas com 1 grau e a nevar! Adormeci num shuttle sacolejante, mas aquecido, que me levou ao hotel e cheguei ao The Loop, bairro central, onde ficam o comércio e as principais atrações turísticas. Minha primeira saída foi em direção ao Millennium Park, para ver o Cloud Gate, escultura em aço mais conhecida por The Bean, devido à sua forma óbvia. É o atual cartão postal da cidade, e pessoalmente encantei-me e diverti-me com as mil possibilidades de ver os arranha céus de Chicago deformados na sua superfície.

Entusiasmada, até ensaiei uma selfie, primeira e última que verão por aqui. Não tenho jeito para a coisa e recuso-me a andar de selfie stick. Foi só uma brincadeira para que a família se desse conta que eu estava de fato em Chicago! a minha cara saiu tão deformada quanto os prédios refletidos no Bean e não se iludam com o céu azul, a temperatura estava mesmo muito baixa.

Do Cloud Gate, caminhei mais um pouco até ao Art Institute of Chicago. Cheguei às portas do museu antes das 10 da manhã com o local ainda fechado. A minha intenção era somente ver a parte dedicada à arte contemporânea Americana, com ênfase no movimento Pop Art, assim como as alas de arquitetura, design e artes decorativas. Tudo o resto, como arte Oriental, Africana, Indiana, Grega e até os pintores impressionistas de que tanto gosto, não faziam parte do meu programa por duas razões: tempo curto e a oportunidade de apreciá-los nos museus pela Europa afora. Mas ao comprar o meu ticket de entrada, a pessoa que me atende informa-me que por mais 5 dólares posso ter acesso à exposição temporária sobre Van Gogh, mais propriamente sobre as 3 versões do seu quadro "Bedroom", que pela primeira vez, estão expostos lado a lado num museu norte Americano. Muitos conhecem esta pintura de Van Gogh, mas poucos sabem que existem 3 versões da mesma, com diferenças muito sutis entre elas. Uma, faz parte da coleção do Museu Van Gogh de Amesterdão, outra, integra o acervo do Musée d´Orsay em Paris, e finalmente uma última que fica em exposição permanente neste museu de Chicago. E foi aí que me perdi nas horas, eu que tinha tudo mais ou menos controlado e cronometrado, deliciei-me com os vários "Bedroom" e com o exercício de descobrir e comparar as diferenças quase imperceptíveis entre as 3 obras.

Aliás, a cidade estava com várias alusões aos "Bedroom" de Van Gogh, uma delas esta montra das lojas Macy´s, que mostrava uma versão mais feminina do quarto e num ângulo completamente novo:

Apaixonei-me pela Liz, vista por Andy Wharol,

e pela obra pictórica de Roy Lichtenstein.

Como demorei mais que o pretendido no museu, opto por saltar o almoço e caminhar ao longo do Rio Michigan, no famoso Chicago Riverwalker. Mas o frio continuava a apertar, as calçadas ao longo do rio estavam quase desertas, os cafés fechados, e eu dou-me conta que por mais que ande, possivelmente não vou chegar a lado nenhum interessante. É quando passo em frente a um ponto de vendas de bilhetes para passeios de barco organizados pela Architecture Foundation e decido embarcar. Resolução mais do que acertada: o passeio vai pelos braços sul e norte do rio, com um guia voluntário da fundação, a explicar a história da cidade e da construção dos prédios. A arquitetura é uma das grandes atrações de Chicago e deparamos com ícones desenhados por Mies Van der Rohe ou Frank Lloyd Right. Escusado será dizer que 1 hora e trinta depois, eu estava ainda mais congelada do que quando tentava apreciar a cidade do "calçadão" do Riverwalker. Tirar a luva para desbloquear o telemóvel e bater uma foto era missão quase impossível!

A arquitetura é tão extraordinária em Chicago, que nos oferece visões deste tipo: um prédio possivelmente dos anos 40, encimado por uma catedral gótica!

As habitações com varandas viradas para o rio, são as mais valorizadas em Chicago.

Quem conhece um pouco de mim, sabe que sou viciada (sim, é o termo) em coisas para a casa. Não ligo para a moda nem sou fashion. Em termos de roupas, tenho 2 ou 3 lojas que se adaptam ao meu estilo, em Lisboa, então quando vou ao estrangeiro não tenho a mínima curiosidade em olhar as tendências. Sei que não é comum a pessoa ser assim, pode até ser chato ou limitador, mas a verdade é que estou nesta fase há já alguns anos. Pode ser que mude! Isto para vos dizer que não fui para a Michigan Avenue (5ª Avenida de Chicago) onde estão as marcas boas, mas para a State Street, mais popular e só entrei em duas lojas: a Anthropologie, da qual sou super fã e já vos falei dela aqui e a Macy´s .
Na Anthropologie, as coleções de loiças estavam, como sempre, lindas. Como sempre, dispostas de maneira muito atrativa. E como sempre também, saí eu de lá a alancar com 8 pratos. E só não foram mais porque não tinha quem me ajudasse a acartar com o peso!

A Macy´s é uma famosa loja de departamentos nos Estados Unidos. Passo sem olhar os perfumes e acessórios, ignoro os sapatos, não me detenho nas marcas de roupas, vou subindo as escadas rolantes e só paro na secção casa. Gosto de apreciar a miscelânea de produtos e de me inspirar nas mesas montadas. mesmo que sejam over, sempre se tira daqui e dali uma ideia para adaptar à nossa realidade.

No que toca a restaurantes, padarias, cafés, Chicago está mais do que bem servida. Nos 2 dias que lá passei, apenas fiz refeições informais e fiquei sempre satisfeita. Não me programei para entrar em nenhum lugar em especial. Parava sobretudo quando já não aguentava mais o frio e a cara do estabelecimento agradava. Ou quando precisava de Wifi para me conectar com o mundo.

Mas nem tudo o que parece é. Adorei a forma como me serviram este café mas desisti dele ao primeiro golo! Em Portugal estamos muito mal habituados com o café saboroso que temos!

Vim embora e não vi tudo o que queria. Não fui a Oak Street Beach, uma parte do lago Michigan com areia, que faz lembrar uma praia. E não cheguei a visitar o bairro da Universidade de Chicago onde fica a Hobbie House, uma das mais famosas casas de Frank Lloyd Right. Imperdoável, mas duas boas desculpas para voltar!