A CAIXA DE AMEIXAS

27.4.24

A pessoa que me entregou a caixa, não sabia exatamente qual teria sido um dia o seu conteúdo, apenas disse-me que "estava lá por casa há anos", bastante mal tratada e que talvez eu conseguisse de alguma forma recupera-la. Depois de meses a cuidar do baú, uma peça pesada e difícil, que me obrigou a trabalhar dobrada em duas e de joelhos no chão, a perspectiva de ter entre mãos algo de pequeno porte e fácil manuseio era algo bastante apelativo para mim. Levei então a caixa para a oficina que frequento semanalmente, um espaço de aprendizagem mas principalmente de interação e partilha entre pessoas que têm um mesmo prazer em revitalizar objetos de outros tempos. E foi lá que fiquei a saber, pelos colegas menos jovens, que uma fábrica de Elvas, que produzia ameixas em compota mas também ameixas doces secas, utilizava estas caixas para embalar os seus produtos. As ameixas secas vinham delicada e requintadamente acondicionadas nestas caixas de madeira depois de terem sido embaladas num fino papel rendilhado. Ou seja, um primor e um refinamento muito difícil de se encontrar hoje em dia. O invólucro era de tal forma importante para estas casas comerciais, que cada produtor da zona tinha o seu próprio modelo de caixa de madeira assinada. Uma elegância que se perdeu nos tempos, infelizmente! A minha intervenção na caixa foi cirúrgica: limpa-la o mais possível das manchas que enfeavam a tampa, arranjar um canto partido e no final, cera num tom alaranjado para lhe devolver  a distinção de outrora!

 

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