Quando alguém me perguntou se eu queria ficar com o baú, confesso que aceitei só por simpatia. Nunca pensei que algum dia pudesse vir a me ser útil. No entanto, quando precisei de uma mesa de cabeceira para o quarto das filhas, foi dele que me lembrei. Era feio de doer, mas tinha as medidas adequadas e apesar de velho, estava em bom estado. Foi um autêntico desafio livra-lo do verniz escuro que o cobria por inteiro, mas quando a camada preta desapareceu, revelou uma madeira cor de mel, ferragens trabalhadas e um papel com textura. Como para o meu objetivo ainda estava um pouco carregado, pintei o papel com uma tinta clara, com cuidado para não esconder os relevos. E de uma caixa sombria e sisuda, direi até, meia soturna, o baú passou a um elemento levemente romântico, que encaixou na perfeição entre as camas das miúdas.
Baús são peças que despertam indagações: será que rodaram o mundo ou terão levado uma existência mais pacata, encerrando o enxoval de uma vida? entre mala de viagem e arca de arrumação, acho que foi esta última a função que ele sempre cumpriu. Agora, passará a ser guardador de sonhos.
Baús são peças que despertam indagações: será que rodaram o mundo ou terão levado uma existência mais pacata, encerrando o enxoval de uma vida? entre mala de viagem e arca de arrumação, acho que foi esta última a função que ele sempre cumpriu. Agora, passará a ser guardador de sonhos.