Não é a primeira vez que me cruzo com este tipo de móvel. Eram tão corriqueiros há 60, 70 anos, surgiam nas mais variadas formas e tamanhos, ficavam por cima dos lavatórios nas casas de banho, e geralmente chegam aos nossos dias bastante danificados por anos a fio de humidades em instalações sanitárias com pouca ventilação, e também pelo uso ao qual estavam destinados: acondicionar escovas de dentes e demais itens de higiene, como tónicos, loções, líquidos para gargarejar, enfim frascos de toda a sorte que acabavam guardados molhados provocando manchas e algum bolor. Este estava exatamente nesse estado, numa casa de banho de um velho andar em obras e só não foi parar ao vazadouro porque o empreiteiro, contrariado diga-se, fez o esforço de ir ao entulho "ver se ainda lá está" só para não me ouvir mais a perguntar pelo dito cujo. Seja como for, o fato é que saí de lá feliz da vida, com a pequena peça imunda em baixo do braço. Adoro pequenas peças; são fáceis de manejar, dão pouco trabalho e permitem-me fazer experiências. Eu tenho fazes, e atualmente ando apaixonada pelas chalk paints da Annie Sloan. As cores são lindas, dispensam o primário, a cobertura é ótima e conferem uma certa textura. Parece propaganda, e é, só que grátis. Também ainda não me cansei dos decor transfers, antes pelo contrário, portanto sinto que nos próximos tempos a combinação Annie Sloan Chalk paints / decor transfers serão uma constante por aqui....
Mas voltando ao pequeno armário, quando o coloquei sobre a bancada de trabalho, só tinha em mente que queria me ver livre das divisórias interiores, que de tão estreitas tinham pouca utilidade. Arrancá-las, estragou o fundo e facilitou-me a vida. Fiquei com uma tela em branco para pintar e transferir decalques. Gosto quando os móveis não revelam por fora aquilo que têm lá dentro: Beauty comes from the inside, dizem, e eu concordo plenamente. Confesso que primeiro acabei a parte de dentro pois estava numa relação de amor-ódio com a porta: não gostei da madeira que apareceu quando lixei a tinta velha, o espelho não me dizia nada e o vidro pintado menos ainda. Considerei mesmo descartá-la mas lá pelas tantas pensei que se tinha desmontado o móvel, também poderia desmantelar a porta e quando o fiz, achei que com um puxador novo e uma tela, a coisa poderia se compor. Foi assim que de móvel de casa de banho passou a guarda comida. Por força das circunstâncias. E da minha implicância.