COMER COM OS OLHOS

31.1.18
Já aqui disse várias vezes que não cozinho. E é verdade, a criatividade que tenho em certas áreas, falta-me em absoluto na cozinha. Tenho pena, pois nunca meus filhos poderão dizer que certo cheiro ou paladar lhes recordam a casa da mãe. Em contrapartida, adoro cozinhas (como arquiteta é mesmo a parte da casa onde mais gosto de intervir) e sou a louca das loiças! Esta última característica traz-me dois problemas: o primeiro de ordem logística, a casa não cresce e é-me cada vez mais difícil arranjar espaço para os serviços. E o segundo, um debate moral: estarei eu a gastar demais e a transformar-me numa acumuladora de pratos, pratinhos, copos, talheres, bowls, mini cassarolas, tábuas e afins? Para me consolar, costumava dar a mim própria a desculpa de que é o meu único vício e não tão nocivo assim, até que há uns dias, passou-me pelas mãos um artigo que dizia que investir em loiças é não só uma maneira de deixar a mesa mais atrativa mas também um conceito de alimentação saudável. É não olhar apenas para os nutrientes, ir mais além e enxergar na comida o prazer, as relações, as partilhas. E fez-me tão bem ler e pensar sobre isto porque de repente o meu único vício deixou de ser uma futilidade. Eu sou uma pessoa visual, sempre fui, como com os olhos, e assumo: venho carregada de pratos nas viagens, compro loiças online, herdo peças. Considero os meus serviços pessoais e intransmissíveis porque são descombinados e compostos por peças avulsas. Tem o prato branco mas também tem o colorido, os estilos são os mais diversos, os formatos e tamanhos variados. Traços que me permitem misturar e obter combinações menos óbvias à mesa. As fotos a seguir não são minhas.  A comida obviamente também não. Mas os pratos, são. O meu acervo é tão grande que volta e meia combino com a minha amiga de longa data, Lena, a mentora do projeto Seëds e empresto-lhe peças. São imagens que me enchem os olhos. Gosto de ver como a culinária da Lena torna os meus pratos tão fotogénicos, e aprecio a forma como as minhas loiças exaltam ainda mais as suas criações, já de si, tão atraentes.

DIZ QUE FUI POR AÍ

24.1.18
Este fim de semana fui à Bélgica. Já perdi a conta das vezes que visitei aquele país que trago no coração, de forma que minhas idas lá não são mais turísticas e sim puro deleite de passear pelas ruas, sem pressa e sem destino. O tempo foi curto para matar saudades e colher inspirações, mas nas minhas deambulações tropecei por elementos de outros tempos, que foram concebidos para usos específicos, mas que pelo seu forte apelo visual, metamorfosearam-se e acabaram por tornar-se protagonistas dos ambientes. E foi assim que os bules levaram uma camada de tinta spray e reinam agora dependurados do teto. Que gavetas solitárias transformaram-se em prateleiras. Que bancos ganharam pedais e a cadeira de cinema veio para a esplanada. Que o pé de máquina virou mesa. Que as malas de viajem converteram-se em apoio para plantas. Que o carrinho de mão, bem, esse não mudou muito de funções, mas tornou-se um belo recipiente para bolbos. Flanar pelas ruas, é das coisas que mais gosto de fazer. De tal forma que muitas vezes antes de sair de casa, aviso: "se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí".

PLANOS PARA O QUARTO DAS FILHAS

16.1.18
Neste final de ano aconteceu algo sui generis lá em casa. Aproveitando a rara ocasião em que as duas filhas estavam presentes, uma vez que ambas estudam fora e é difícil coincidirem em Lisboa, dei-lhes um ultimato para que fizessem uma limpeza aos armários do quarto delas, separando a roupa que já não servisse ou quisessem. Saí de casa e disse-lhes que queria tudo limpo e organizado até ao final da tarde, quando eu voltasse do trabalho. Mas qual a minha surpresa quando ao regressar, dei com a entrada do apartamento atafulhada de sacos: as duas não só tinham separado a roupa para doação como ainda embalaram tudo o que se encontrava no quarto e que elas definiram como artigos infantis que nada mais tinham a ver com elas. Ensacaram bonecas, porta retratos, desenhos, bijuterias, CDs, livros, enfeites. E perante a minha cara de espanto, viraram o feitiço contra o feiticeiro e lançaram-me o repto: que eu me livrasse dos móveis coloridos, das secretárias de estudo que já não utilizam e lhes desse finalmente um quarto de adulto. Reivindicam madeira natural e cores neutras  (vá lá, depois de muita conversa vão deixar-me colocar um só elemento com cor) e uma zona de chill out. Eu sei que elas têm razão em pedir este refresh. São 22 anos de uma decoração que evoluiu com elas até uma certa altura mas depois parou. Parou porque elas não estavam cá. Parou por preguiça minha (confesso). Parou porque a maior parte do tempo o quarto tem estado fechado e esquecido. Planos, tenho alguns. Dúvidas, muitas. A única certeza é que quero começar por tirar o lambril de madeira verde, arranjar uma cor para as paredes na paleta dos cinzas, e tentar remodelar uma ou duas peças velhas que tenho guardadas. O resto, como sempre, confio no acaso, vai cair do céu e vai dar certo!

O quarto depois do desbaste:









PRESENTES À MEDIDA DE CADA UM

5.1.18
Eu sou uma chata quando se trata de dar e receber presentes: assim como não me agrada que me despachem com algo que nada tenha a ver comigo, também não gosto de oferecer qualquer coisa.  Como a maioria das pessoas, fujo da corrida aos centros comerciais na época do Natal, mas para evitar os shoppings, sou obrigada a puxar pela criatividade para arranjar prendas com as quais as pessoas se identifiquem ou se surpreendam. Este ano, dois itens fizeram especial sucesso entre os presenteados, e por se tratarem de peças e "momentos" relativamente fáceis e acessíveis de serem concretizados, achei que partilhar aqui poderia vos servir de inspiração quando a oportunidade de oferecer se apresentar ao longo do ano e vos faltar a imaginação. A ala das crianças da família foi corrida a aventais e os sobrinhos adultos, levaram cada um, um "vale brunch". Eu explico: fiz batas dupla face, coloridas e algo lúdicas para as meninas e um avental de pequeno chef para o menino. Se me tivesse sobrado mais tempo, teria juntado a estas peças elementos tais como colheres de pau ou formas de bolachas, para que os pequenos se sentissem incentivados a ir para a cozinha, meter as mãos na massa e divertirem-se. Mas tal nem foi preciso, pois os miúdos assim que desembrulharam os presentes, já se paramentaram com os aventais e não mais os tiraram. O fato de terem dois lados, também os deixou numa dúvida cruel. Foi engraçado de assistir. Quanto aos sobrinhos mais velhos, já na casa dos 20 e poucos, ao se depararem com os vales brunch, ficaram um pouco confusos, mas eu logo apressei-me a explicar: que eles agendassem uma data onde pudessem estar todos, num local aprazível, previamente definido por mim. O resto, seria por minha (nossa) conta. Decidimos logo ali o dia e hora em que nos encontraríamos, e isto, não parece, mas é importante, porque se deixarmos para combinar noutra ocasião, o "vale" acaba por cair no esquecimento e perde a graça. Uma semana depois, lá estávamos todos, junto ao rio, num sábado, a meio da manhã. Nós lá de casa chegámos com os cestos de piquenique carregados. No menu, café, sumo de laranja natural, bolo de limão, iogurte com dois tipos de granola, panquecas com mirtilos e maple syrup, sandes com recheio de abacate. Fiz questão que nada fosse de papel ou descartável, a ocasião pedia um certo requinte! Mas a comida foi o menos importante, bom mesmo foi estar com os sobrinhos, ouvi-los e sabermos deles.

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