UMA CASA DE BRAÇOS SEMPRE ABERTOS

31.7.16
São 20 anos de amizade que começou quando as nossas filhas mais velhas conheceram-se na pré primária e nunca mais se largaram. Mais tarde, as nossas segundas filhas nasceram com poucos meses de diferença e tornaram-se também melhores amigas. A coincidência já não existiu com os terceiros filhos, se bem que é com esta família que o mais novo pede para ficar quando viajamos e não queremos deixá-lo sozinho em casa. E todos os anos por altura das férias de verão, a Maria João e o Raul tentam reunir as deles, os nossos, e mais alguns amigos do tempo da escola para um almoço. Eu digo tentam, pois nem sempre é tarefa fácil garantir que jovens sempre tão cheios de compromissos consigam estar presentes em dado dia às tantas horas. É mesmo preciso arranjar uma data com relativa antecedência, consultar os intervenientes e obrigar todos a assentar na agenda. O encontro dá-se na casa de fim de semana do casal, em que chegamos cedo para almoçar mas entre conversas animadas e mergulhos na piscina, a refeição vira lanche que transforma-se em ceia e inevitavelmente saímos sempre já noite fechada. A Maria João capricha na mesa e no cardápio e duas coisas não podem faltar: um Gaspacho de entrada e uma Baba de Camelo à sobremesa. Esta casa cativa-me, é muito usada e festejada. Aprecio a forma como elementos rústicos misturam-se com peças de design e itens com certo requinte. Gosto das alusões a África, continente que lhes está no coração, dos livros e revistas que por força da profissão dos dois, enchem estantes e espalham-se pelas mesas e da arte que se vê nas paredes. Uma miscelânea, que se funde em espaços com paredes que delimitam, mas nunca chegam até ao tecto. É uma casa aberta e cheia de luz em todos os sentidos, transponível, um convite aos amigos e à natureza. Um brinde à amizade.

VIVA A CRIATIVIDADE!

25.7.16
Um dos meus passeios preferidos é andar sem rumo, de olhos bem abertos, atenta a ideias que possam dar um toque de irreverência à decoração! Gosto do olhar fora do comum que certas pessoas têm para enxergar várias possibilidades num objeto só. Trocar a função de um elemento ao utilizá-lo de maneira original pode gerar ambientes pessoais e muito calorosos, e se umas soluções são mais difíceis de concretizar, outras há que são desconcertantes de tão simples! Deixo-vos 8 propostas fora do habitual que esbarrei por aí, em lojas e restaurantes, mas peço indulgência com a qualidade das imagens. Fotos tiradas com o telemóvel, atrás do vidro, com pouca luz, alguma pressa ou under cover!

Interessante o incremento que deram a lustres clássicos em bronze. Ao pendurarem pratos com o auxilio de correntes, as luminárias não perderam o seu estilo tradicional e ainda ganharam em originalidade.  Aqui, enfeitam uma casa de chá (em Toulouse, França), mas vejo-os perfeitamente numa cozinha doméstica ou sobre a mesa de jantar.

ESTANTE FLORIDA

17.7.16
Todos nós temos em casa itens esquecidos e parados no tempo. Daquelas peças que comprámos há 10, 20 anos atrás, colocámos num devido lugar e dali não se moveram nem evoluíram. Eu tenho uma dessas, aliás, várias. Passo por elas todos os dias, olho, incomodam-me, na minha cabeça prometo um refresh para breve, mas o breve vai sendo constantemente adiado, por falta de tempo, de inspiração ou de vontade. E não necessariamente por essa ordem. O móvel metálico da varanda era um desses: a sua cor morria na parede escura, as marcas do tempo eram mais do que evidentes, e eu já nem me dava ao trabalho de decorá-lo porque nada conseguia realçar ali. Ou seja, a estante precisava urgente de tinta para camuflar os defeitos e de plantas diversas para dar vida e cor. Para garantir a transformação, tudo foi reaproveitado e apenas precisei comprar as flores no horto. Chamo agora a este canto, afetuosamente, de jardim vertical.

O TOUCADOR

8.7.16
Fui a casa da D. Maria. Daqueles andares típicos de Lisboa antiga: corredor a perder de vista, muitas assoalhadas, pé direito generoso. Geralmente, ao cruzar a porta de patim de um andar como este, entro noutra dimensão e é até difícil falar comigo de tão concentrada que estou a absorver detalhes dos tetos, desenho dos rodapés e das portas, padrão do piso da cozinha. Mas voltemos à D. Maria. Esta, já com uma certa idade e a viver sozinha, vai mudar-se para um apartamento mais pequeno e tenciona vender parte das suas mobílias. Insiste para que eu fique com algumas pois são peças impregnadas da sua história -rosário que vai desfiando à medida que passa de sala em sala a mostra-me os moveis- e assim sendo ela prefere que pelo menos alguém conhecido fique com elas. Não posso levar tudo, vou escolhendo esta, aquela, a outra ali ao canto. Tenciono usá-las num projeto da empresa onde trabalho. Faço um lote, acertamos o valor (montante difícil de definir tendo em conta o fator afetivo) e quando estou para vir-me embora vejo pela porta entreaberta da casa de banho, um móvel esguio, encimado por um espelho, muito parecido com um que fazia vezes de mesinha de cabeceira no quarto que minha irmã e eu partilhávamos em criança. Está em bastante mau estado mas decido juntá-lo ao conjunto já escolhido, muito pela originalidade da peça mas mais ainda pela lembrança do quarto da minha infância.  Mais tarde e enquanto tiro a camada de tinta velha, começo a descobrir pormenores invulgares que ele tem, como o cabide na lateral do pé que serviria para pendurar a toalha de rosto (marcas mostram que existia um segundo cabide), as peças redondas que atarraxam o suporte do espelho, e os pequenos acessórios que unem a estrutura à moldura do espelho, formando um eixo e permitindo que o espelho gire. Escolho deixá-lo na madeira, e apenas intervenho na pequena gaveta e mísula de encaixe, que essas, estão quase sem salvação. Hoje, dei-o finalmente como pronto e quando me propunha fotografá-lo na casa da D. Maria, soube que esta deixou o casarão e que obras de renovação já lá estão em curso. Deu-me alguma nostalgia das horas que passei a escolher moveis e a ouvir histórias, mas é assim a vida, enquanto algumas coisas deixam de existir, outras reinventam-se e entram num novo ciclo.

MEMORY QUILT

1.7.16
Queria oferecer à minha filha um presente que marcasse os seus 21 anos, e lembrei-me das dezenas e dezenas de t-shirts que lotavam o seu roupeiro. Tshirts que foram muito usadas, lavadas N vezes, quase todas com a malha já deformada e algumas até manchadas. Quando lhe falava em desfazer-se delas, respondia-me que nem pensar porque o valor afetivo era imenso. Afinal, quem conhece a Bea, sabe que dos seus 21 anos de vida, não quero enganar ninguém, mas talvez uns 15 venham sendo dedicados ao ténis. Começou pequena, por graça, e evoluiu. Passou por diversas escolas da modalidade, viajou sempre muito para participar em torneios, as amizades são quase todas do meio e os ensinamentos da vida, aprendeu-os a duras penas nos courts. A competir, descobriu que é preciso humildade porque quem ganha nem sempre é o melhor, mas que aquele que trabalha, tem foco e disciplina, mais tarde ou mais cedo é recompensado. Comemorou e saiu em braços após muitas vitórias, mas também chorou ao telefone, longe de casa, em várias desclassificações. Encontrou treinadores e adversárias de peso, ficou amiga de parte deles, outros apenas cruzaram o seu caminho e não deixaram saudades. São estas e outras história que, agora, conta cada quadrado desta manta. Uma manta de recordações, que mostra o seu percurso e a sua paixão. Que se um dia ela estiver para baixo ou com dúvidas, a envolva suavemente, transmitindo-lhe calor e aconchego, quase como se fosse o abraço dos pais. Que a faça sentir-se orgulhosa do caminho que escolheu e lembre-lhe sempre que os sonhos tornam-se realidade.


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