A filha mais velha mora na Bélgica e não lhe convinha vir a casa. E quando Maomé não vai à montanha, a montanha desloca-se. E lá rumámos nós em direção a Bruxelas.
De antemão, sabia que um jantar de Natal, só para nós 5 e numa casa de estudantes, carecia de alguma organização antecipada ou seria recheado de improvisos.
Assim sendo, ainda em Lisboa, preparámos o cardápio. Por unanimidade, o bacalhau ficou de fora (o apartamento é pequeno e a ventilação duvidosa). O peru acompanhado de castanhas Portuguesas iria já assado na mala do marido, e aterrou em Bruxelas na própria véspera de Natal, em meio a uma enorme tempestade, que nos fez temer o pior (marido e peru ilhados num qualquer aeroporto Europeu). Para um gostinho de Brasil, também seguiria farinha de mandioca para ser transformada numa bela farofa. E como em Roma sê Romano, os doces seriam os tradicionais do Natal Belga: mini troncos de Natal, petit Jesus em pasta de açúcar, cougnous (um pãozinho em brioche) tarte de cerejas.
Ficou por minha conta, a tarefa de pensar numa mesa bonita. Lembrei-me de comprar um tecido alusivo e cortar uma toalha simples para a ceia. Separei para levar, guardanapos (desta vez de pano), alguns enfeites rústicos que tenho, por ser este o ambiente da casa, e preparei um kit com algum material, banal quando estamos na nossa terra, mas sempre complicado de encontrar no estrangeiro, tais como pioneses, vários tipos de cordel, velas de réchaud, e outras insignificâncias mais, fundamentais na hora de se montar uma mesa.
Pratos e copos, escolhi-os sem muito tempo para pensar, na Maisons du Monde, loja com mil ideias para a casa, em variados estilos, no centro de Bruxelas e a preços aceitáveis. Sempre naquela minha mania de misturar os serviços, e em meio a um mar de gente que fazia as últimas compras de Natal.
Foi uma Consoada diferente, feliz e tranquila, os cinco reunidos novamente, como não estávamos há cerca de meio ano.

