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NATAL, ANO NOVO E UMA RESOLUÇÃO

Um dezembro atípico tive eu este ano. Num mês em que, de livre e espontânea vontade, coloco sempre bastante pressão sobre mim própria, o tempo já de si escasso, tornou-se ainda mais curto quando, de repente, vi-me sentada num avião em direção ao Brasil para apoiar o meu pai numa cirurgia. Para pessoas como eu, que gostam pouco ou nada de planear e preferem organizar o seu dia a dia seguindo um certo instinto, um imprevisto como este consegue baralhar completamente a ordem, já de si frágil, das coisas. A sorte, é que a idade traz-nos certa sensatez, e parece que finalmente começo a aceitar que se não conseguir concretizar tudo o que pretendia, está tudo bem; se não sair perfeito, está ótimo também. Ou seja, não vou mais martirizar-me quando o que poderia fazer hoje, ficar para amanhã. Ou para daqui a dois dias. A surpresa de me meter num avião quase de um dia para o outro, provou-me mais uma vez aquilo que todos sabemos: nada é garantido e a vida é finita. Felizmente, tudo correu bem, mas habituada a um pai com força e atividade incomuns aos 91, vê-lo num estado fraco e dependente, fez-me tomar a primeira resolução de Ano Novo séria em toda a minha vida: a de que irei atravessar mais vezes o Atlântico para estar com ele. E como conheço-me e sei que posso levar algum tempo a decidir mas quando o faço é para valer, isto vai mesmo acontecer.

O que desejo a todos que por aqui passam, é que o Natal tenha sido oportunidade de reencontros e alegrias, e que a tela em branco que temos à nossa frente, se encha de cores bonitas, que representem ânimo, determinação, motivação e entrega. Felizes festas!

EMBALAR AS PRENDAS DE NATAL SEM DESPERDÍCIO

Já há uns anos que deixei praticamente de usar papel para embrulhar prendas, principalmente na altura do natal. Não existe pior visão para mim, naqueles dias logo a seguir ao Natal, que os ecopontos pejados de papéis para presente; tão cheios apresentam-se os "papelões" que as pessoas nem se dão mais ao trabalho de dobrar o que quer que seja e simplesmente despejam tudo na rua, transformando a cidade numa autêntica lixeira. Portanto, de há uns anos a esta parte, comecei eu a fazer os meus próprios sacos de embrulho. Tenho muito mais trabalho, é certo, mas não só nada bate uma embalagem personalizada, como também evito o desperdício embrulhando os presentes de forma consciente, em pacotes prontos a serem reutilizados. Este ano, e como o tempo disponível para fazer estas coisas é sempre apertado, optei por usar tecido cru (bom e barato) num modelo de saco muito simples que ensino a fazer mais em baixo. Adicionei uma barra em tecido natalício, usei os transfers que tanto gosto e tanto efeito fazem, e obtive um resultado bem original. As minhas dimensões preferidas para os sacos são 25cmX30cm e 30cmX45cm, pois permitem colocar objetos bastante grandes, mas na verdade acabo por fazer de diversos tamanhos consoante vão sobrando tecidos que quero aproveitar. Para fechar as bolsas, é usar aquilo que vai lá por casa: cordel, ráfia, fita, restos de berloques, enfim, o que houver à mão. E para complementar os sacos, sugiro que revejam aquiaqui e aqui como fazer cartões e etiquetas que também poderão ser reaproveitadas, gerando desta forma, uma economia circular.

Eu sei, o Natal está à porta, mas quem sabe ainda sobra por aí algum tempinho livre que permita a realização de umas festas mais sustentáveis!

E O MIMO VAI PARA...

Meu sincero obrigada a todas que dedicaram um pouco do seu tempo a escrever um comentário carinhoso. É bom ouvir da vossa parte, que continuam a passar por aqui e a tirar inspiração daquilo que mostro. Gosto muitíssimo de vos ler, acreditem. Este ano, foram 15 as participantes, e uma vai receber em casa uma almofada para decorar a casa no Natal. Desta vez tentei inovar, juntando ao patchwork, o bordado à máquina. Em Março último investi numa máquina de costura que também borda, mas confesso que não consegui me dedicar a estudar a máquina como ela merece. Aliás, eu, que nunca faço resoluções de Ano Novo, quero mesmo em 2024 "perder" mais tempo a explorar as infindáveis possibilidades de bordados que a máquina permite e oferece, pois só assim tirarei total partido dela. Isto tudo para vos dizer que a almofada não ficou tão perfeita como eu imaginei, que tive coisas ali de refazer duas e três vezes, mas é de fato com os erros que aprendemos.

Agora deixemo-nos de justificações e vamos ao que interessa, o número gerado pelo programa on-line:


11 ANOS

Mais um ano se passou e já são 11! A era dos blogues, já era, mas continuo por aqui e com o mesmo entusiasmo de sempre. Se o número de postagens não tem sido o mesmo, não é seguramente por falta de público, nem de vontade, mas sim por pura falta de tempo. Sei que tenho leitores fiéis, que me leem, aprendem, inspiram-se e ensinam-me muito também. Hoje, além das interações, vejo o blogue como um arquivo: não imaginam as vezes que consulto os posts mais antigos para relembrar como fiz tal coisa, que técnica usei para dado acabamento, de onde me veio aquela inspiração em concreto. Enfim, isto tudo para vos dizer, que tenciono continuar e que para comemorar esta chegada do blogue à pré adolescência, vamos promover mais um já tradicional sorteio. Desta vez, de uma super almofada de Natal. As regras são as mais simples: é só comentar, abaixo, até ao dia 11 de Dezembro próximo. Dia 12 sairá o resultado. O sorteio é válido para Portugal e estrangeiro. Vamos ser muitos a deixar uma palavrinha? Boa sorte!


QUINTA DO ROSSIO

Adoro quando ao ser convidada para a casa de alguém, sou recebida na cozinha. E foi isto que aconteceu quando a Cristina combinou com os colegas do curso de restauro que frequento uma vez por semana, um almoço de verão na quinta da sua família. Entrar numa casa pela cozinha, é literalmente deixar as cerimónias do lado de fora e ganhar um abraço vindo do coração. Foi uma acolhida perfeita que tivemos na Quinta do Rossio, com direito a uma mesa simples, linda e farta no jardim. As conversas fluíram e os assuntos foram muitos e variados, mas a história da Quinta, as obras de conservação ao longo dos anos, o maravilhoso lagar que virou sala de estar, as peças que a Cristina restaura e espalha pela casa, a luz fabulosa que invade todos os espaços, foram temas constantes para aquele grupo de pessoas que tem em comum o gosto de resignificar peças. E esses elementos, aos quais foi dada uma segunda chance, estão por todo o lado: tem pé de máquina que virou mesa, tem mesa de cozinha que se transformou em bancada, baú do parente que veio embarcado do Canadá a decorar o lavabo, janela de madeira que agora é espelho. Enfim, a lista é tão grande, que mais vale observar as imagens com atenção, pois cada uma delas é uma inspiração. Atualmente, a Quinta, além de ser casa da família, também recebe para festas grandes, bodas, almoços informais para pequenos grupos, e inclusive acolhe hóspedes que podem disfrutar da piscina, dos jardins e das belezas das redondezas. Obrigada, Cristina e Francisco, por nos terem proporcionado este dia memorável, nos terem surpreendido com espaços e objetos que tanto têm para contar e dos quais cuidam e falam com um carinho tão especial!

PROJETO RÁPIDO DE FIM DE SEMANA

As minhas filhas, que até à adolescência tiveram sólidos hábitos de leitura, vinham, de há uns anos a esta parte, desprezando esta atividade tão importante. Não sei se por preguiça de comprarem livros, se por alegada falta de tempo, o fato é que um hábito que fez sempre parte da rotina das duas, acabou por ser posto de parte. Até que, recentemente, uma delas voltou da rua com um eReader e a outra, num impulso, resolveu também aderir à novidade. Os tablets são bem pequenos (ecrã de 6") e permitem escrever notas ou aceder ao dicionário. Existem capas da marca à disposição para venda, mas as duas pediram-me se eu poderia colocar mãos à obra e fazer dois estojos exclusivos com local para guardar o fio para carregar. Descoberto um tutorial fácil na Internet, a execução foi simples, prazerosa e terminada em algumas horas no fim de semana. Ler, é um hábito, diria mesmo uma mania, que tenho incorporada à minha rotina. Já perdi a conta de quantos livros li este ano, e chego ao cúmulo de, se um não está do meu agrado, começar um novo e levar ambos adiante ao mesmo tempo. Detalhe, só os leio em inglês, para não perder a fluência na língua e desenvolver ainda mais a gramatica e o vocabulário. Mesmo não sendo daquelas que precisa sentir o cheiro dos livros, nem do tipo que os guarda religiosamente em casa, as miúdas ainda não conseguiram me convencer com o eReader. Talvez um dia. Mas o que é verdade, é que tem funcionado para elas, e bem! 

DECORAR COM SOBRAS

Já lhes aconteceu de ter em casa um objeto, um móvel, que por alguma razão acabou por se partir ou estragar e a tendência, quando isso acontece, é pensar em pôr no lixo uma vez que o que sobrou da peça não vai ter mais préstimo? Pois talvez tenha chegado o momento de olhar com mais atenção para as partes que sobreviveram, uma vez que estas, utilizadas com engenhosidade podem surpreender (e muito) na decoração.

A loiça da avó que foi se partindo e apenas chegou até nós uma peça desirmanada; aquela panela de esmalte que de tanto ir ao lume, queimou, mas a tampa resistiu; pés de máquinas de costura que não estão mais completos e até o móvel que foi sacrificado pelo bicho mas ainda dá para salvar alguns elementos trabalhados, são só algumas das ideias que vai ver a seguir e que, espero, a poderão inspirar para continuar com uma memória daquela peça pela qual tinha tanta estima e carinho mas que por contingências da vida, deixou de estar inteira!

Esta ideia inicial na verdade quem me enviou foi a regina do Guache Atelier, e mostra as loiças herdadas colocadas numa mesa tipo caixa, que fará vezes de expositor. Achei interessante até porque mesas desse estilo não só existem para vender como também não são difíceis de serem reproduzidas por um marceneiro ( ou marido jeitoso):

VIDA NOVA PARA UM MÓVEL DE COZINHA

Se não me engano este móvel saiu exatamente do mesmo apartamento onde se encontrava este outro. Aliás, agora que escrevo isto, a certeza é quase total, quanto mais não seja pois são ambos muito parecidos, e enquanto o outro estava cravado na parede de um quarto de arrumos, este cravado estava num canto da cozinha. De onde foi arrancado sem grande cuidado, diga-se, agravando ainda mais o seu estado de saúde que já não era dos melhores. Por estar fixado num canto, não tinha lateral (o outro tinha, era uma madeira tosca, mas pelo menos existia) e a parede da casa era o seu fundo. Ou seja o que me chegou às mãos, basicamente, foi um armário só com um lado, sem costas, com camadas de tinta e de gordura, mas a essa última característica, já me habituei. Tal como o outro, a cimalha também não é completa, já que estavam ambos colocados em posição de canto, mas quanto a isso, até acho que lhe dá um certo carisma, faz parte da sua história. O que fiz, basicamente, foi pedir a um carpinteiro que me fizesse uma lateral nova, depois desta colocada, lixei até à exaustão tintas velhas e gorduras; e com tinta, stencil e "transfers" elaborei um fundo para o móvel. Por curiosidade, quando descartei as telas plásticas que compunham as portas, estive que tempos a pensar onde iria arranjar rede de galinheiro com buracos que não fossem muito grandes, de modo a não ficarem desproporcionais depois de montadas no móvel. Já andava desmotivada com a procura quando, numa viagem rápida a Copenhaga, e depois e entrar numa rua que não fazia parte do roteiro para esse dia, dou de caras com uma loja enorme da Panduro, marca Dinamarquesa de arte e artesanato que adoro. Entro, e saio de lá feliz da vida com a tela de galinheiro com buracos pequenos e proporcionais, exatamente aquilo que queria! Prova de que quando tem de ser, as coisas acontecem mesmo! Nas fotos que ilustram este post, o móvel aparece colocado sobre dois bancos, pois a cozinha à qual ele se destina ainda não está em condições de o receber, mas breve, breve, irá encontrar o seu lugar em meio a móveis modernos, que decerto realçarão ainda mais a sua rusticidade. E voltarei para mostrar!

PRESENTE CAÍDO DO CÉU

Há alguns meses, meu pai fez 90 anos. Está ótimo de saúde, ágil, com uma cabeça fenomenal. O seu temperamento dinâmico e positivo fá-lo continuar no ativo como presidente das empresas que fundou. Nas horas vagas, joga ténis e pedala. Enfim, pode ter falhado em alguns outros papéis que tenha desempenhado (quem nunca?) mas no quesito viver a vida proactivamente e dedicar-se ao trabalho com energia e perspicácia, sempre foi uma inspiração. Uma pessoa como ele jamais poderia deixar de celebrar a chegada de mais uma década e garanto-vos que fê-lo em grande estilo: duas festas, uma no seu país de origem, outra na terra que o acolheu, com grande parte da família reunida e muuuuitos amigos. Tantos, que uma das minhas filhas chegou a perguntar, admirada: como se pode ter tantos amigos aos 90 anos??!!!? Como imaginam, duas festas em continentes diferentes e a poucos dias de distância uma da outra, envolve esforços de preparação e tudo foi organizado em tempo recorde. Uma comemoração ficou a meu cargo, a outra foi responsabilidade de uma das minhas irmãs; trocamos ideias, partilhamos opiniões e num trabalho de equipa a coisa fluiu e correu bem. Pelo meio desses preparativos ocorreu-me um pensamento frívolo mas óbvio: o que usar? Sou complicada nesse tema, pois não uso vestidos ou saias, nem sigo modas mas ao mesmo tempo não gosto de vestir o trivial e tenho minhas preferências: pantalonas, camisas, certos tipos de decotes, assimetrias e cores fortes. Estava eu nesta, digamos, indefinição, quando fazendo uma limpeza ao apartamento do meu pai em conjunto com a minha irmã, esta encontra uma caixa contendo o que seria uma roupa da minha mãe, descosida. Minha mãe tinha esta característica de desmanchar as roupas quando enjoava delas ou pretendia altera-las. Era no tempo em que se ia à modista e como a abundância de lojas de tecido não era como nos dias de hoje, imagino que este processo de reciclagem seria algo comum há 40, 50 anos. "Toma" diz a minha irmã, "és a única de nós que reutilizas tecidos" completa ela referindo-se aos meus trabalhos de costura, e entrega-me a caixa. Olho para o seu  interior, sou imediatamente atraída pelos desenhos em roxo e laranja dos tecidos e vem-me subitamente à memória uma imagem muito ténue da minha mãe, nos anos 70, cabelo armado, óculos escuros de tamanho XXL, vestido camiseiro e sapatos plataforma. "Achei a minha roupa para a(s) festa(s) do pai" pensei eu ao mesmo tempo que investigava, descobria que apenas metade do vestido estava ali e achava estranho nunca antes ter me deparado com esta caixa. E se as festas saíram em tempo recorde, a roupa também. O meio vestido transformou-se rapidamente em blusa e sem a possibilidade de levar duas mangas, tornou-se uma blusa de uma manga só, a minha cara  no que toca às cores, ao padrão do tecido e ao modelo. Senti-me tão, mas tão bem quando a vesti, era tão eu, estava tão na minha pele que as pessoas à minha volta notaram. Minha mãe já partiu há quase 25 anos, não costumo pensar que ela ainda ande por aí e olhe por nós. Não. Acho mesmo que ela merece o descanso dela e nem sequer tenho o costume de a importunar com pedidos. Ela é hoje em dia uma memória terna, doce, muitas vezes hilariante. Mas desta vez, ousei acreditar que foi esta a forma que ela encontrou de se fazer presente numa ocasião tão importante para o meu pai e para toda a família. E fiquei tão feliz com o presente, literalmente caído do céu.

REMODELAÇÃO DE UMA CASA NA VILA (parte I)

A casa foi comprada num impulso: o marido tem um carinho especial pela vila, terra dos avós e da mãe; eu deixei-me levar pelas simples linhas arquitetónicas da construção. Entre indagar quem seriam os donos, encontrarmo-nos com eles e fazermos a escritura, não sei precisar, mas foi tão rápido que de repente vimo-nos com o menino nos braços: uma casa dos anos 50, com adega e primeiro andar, num terreno que nunca mais acabava, muitas ideias na cabeça e poucas certezas. A revelação deu-se quando numa visita a casa, num dia daqueles em que se vai lá para olhar à volta e sentir o que ela pedia, vemos um alçapão no teto da cozinha e decido subir por ali para verificar o estado da estrutura do telhado. É difícil expressar por palavras a alegria que me invadiu quando a lanterna do telemóvel iluminou uma das estruturas mais bonitas que já vi em toda a minha vida de arquiteta (e creiam, já lá vão mais de 30 anos e bastante experiência em remodelações): não só as madeiras estavam bem preservadas, como traves e vigas formavam um desenho bem fora do vulgar, com os elementos em esforço convergindo para dois pontos centrais que pairavam no ar. Voltei para baixo com a convicção de que desse para onde desse, uma coisa era certa: a estrutura de suporte do telhado iria ficar completamente à vista. E foi assim que se passaram alguns anos desde o dia dessa súbita inspiração: o projeto foi desenhado, submetido e aprovado pela câmara e as obras começaram lentamente de acordo com a disponibilidade do nosso tempo e do nosso bolso também. Os trabalhos ainda estão longe de acabar, mas entre paredes atiradas a baixo, novos vãos rasgados e uma delicada pesquisa na renovação e preservação do telhado, a visão daquele dia à luz do telemóvel, com os pés cuidadosamente equilibrados em duas vigas para não pisar em falso, já se concretiza. Mesmo na confusão da empreitada, já há mais leveza no ar e toneladas de luz a invadir todos os cantos. Na minha cabeça, os espaços já se encontram totalmente acabados, aqui no blogue vou continuar a mostrá-los, em vários episódios, consoante os progressos, seguindo as minhas intuições e principalmente ouvindo o que a casa pede. 

DA PÁSCOA...

Páscoa é renascimento, reflexão e esperança. Época de recomeços. De sentarmos à mesa juntos e celebrarmos. Por razões várias, já não venho a tempo de desejar uma Feliz Páscoa, mas deixo a mesa que fiz para festejar a quadra. Mesa essa que, graças às temperaturas convidativas que se fizeram sentir, acabou transferida para o terraço. Foi tudo um pouco corrido mas nos 45 da segunda parte, ainda surgiu um bolo de espinafres confecionado pelo marido, e um DIY simples que deixo no final do post.        

Que tenham sido dias de alegria e saudável convívio, é o que desejo a todos os que por aqui passam!

BOWLS EM PAPIER MÂCHÉ FORRADOS COM TECIDO

Sempre admirei os trabalhos em papier mâché que casualmente encontro nas minhas navegações pela net. Vejo esculturas e formas fabulosas, com os mais variados acabamentos e aplicadas aos mais incríveis objetos, de utilitários a decorativos. Tinha uma vontade imensa de experimentar a técnica e no início do ano acabei por inscrever-me num workshop, que pelas suas características, praticamente apenas deu para aprender a receita e o processo de enformar e tirar do molde. Isto porque era inverno, a humidade no ar estava em níveis máximos e foram precisos mais de 15 dias para que as peças executadas secassem completamente e pudessem ser trabalhadas. No fundo, fiquei com a noção dos passos principais, o que para mim era suficiente pois a minha ideia desde o início foi sempre conjugar de alguma forma a técnica do papier mâché com o patchwork e um plus que englobasse fitas e contas. Sem tempo útil para acabar as peças no decurso do workshop, acabei por trazê-las para casa "despidas" e decorá-las por minha conta e risco da forma que as tinha imaginado. Resultaram em duas taças (a mais pequena não estava no programa, foi só para aproveitar as sobras da pasta) bastante rústicas e mais decorativas do que propriamente utilitárias, devido a não poderem ser lavadas, apesar de ambas terem levado uma boa camada final de cola branca, o que sempre impermeabiliza qualquer coisa. São peças interessantes, alegres, descontraídas que me fizeram ter vontade de ir mais além. Desta vez aliei a técnica aos tecidos -que são uma das minhas paixões- talvez um dia consiga associar o papier mâché à renovação de móveis -outro apego grande que tenho na vida. Enfim, ideias não me faltam e vontade também não! Mais abaixo, deixo a receita usada e um tutorial para quem quiser se aventurar: vem aí o bom tempo, meio caminho andado para imaginar peças lindas e coloridas e as concretizar num piscar de olhos!

MESA DE APOIO INDIANA

Apesar do título que dei a esta postagem, não tenho certeza que a mesa tenha vindo da Índia, mas tendo em conta o estilo e também o fato de que a pessoa que a ofereceu passou parte da vida naquele país, é muitíssimo provável que a peça seja originária de lá. De vez em quando a minha cunhada lembra-se de me entregar o que tem lá em casa partido ou bastante estragado pelo uso, na esperança que eu faça algum milagre. Quase sempre passa meses guardado até eu me entusiasmar com o que me foi confiado, seja porque geralmente são peças que não fazem muito o meu gosto ou porque precisam de um restauro propriamente dito e não de um New look, e não sou nem pouco mais ou menos restauradora. A mesinha, dobrável, em madeira exótica trabalhada e um tampo em latão, estava partida e o verniz escuro que a cobria, não dava realce ao desenho rebuscado dos pés. Portanto a minha função foi basicamente fazer uma limpeza profunda, colar o elemento partido e dar-lhe um acabamento que conferisse leveza, no caso, cera. O resultado final pode não arrancar "uaus" de admiração e a mesinha não ser protagonista de um antes e depois impressionável, mas há peças mesmo assim, que não pedem roupagem nova, apenas cuidado e apreço. Uma espécie de afago que lhes levante a auto estima.


UMA CASA NAS ARDENAS

No final do ano passado estive na Bélgica. Gosto de lá ir quando está frio e os Marchés de Noel animam e enchem de cor e sabores as ruas. Geralmente, deambulo maioritariamente por Bruxelas, onde sinto-me (quase) uma local, porém desta vez uns amigos convidaram-nos a ir às Ardenas conhecer a casa que está na sua família há 100 anos. Das conversas que tinha com eles, ouvia com especial atenção as histórias que contavam de lá, de como tinha sido viver no seio de uma família numerosa, numa casa rústica e de modestas condições, num país de inverno rigoroso, e de como a casa deixou de ser morada da família mas passadas quatro gerações, continuava a ser ponto de encontro de avós, filhos, netos, tios e primos. De modo que, quando o carro parou à frente da casa, numa tarde de dezembro cinzenta e gelada, a impressão que tive é que eu ia ao encontro de uma velha conhecida. Ao entrar, fui imediatamente abraçada pelo calor de um velho fogão a lenha e na cozinha uma generosa mesa cuidadosamente posta, esperava por nós. As memórias são muitas e estão em cada canto: no bric a brac de objetos expostos, nos quadros que enfeitam as paredes, nas fotos desvanecidas, no piso de ardósia já gasto, nas portas que rangem ao abrir. O aparelho de televisão não existe, a internet é falha. Resta ler, pescar e dar uns mergulhos no rio que corre atrás da casa, fazer jogos no jardim que à noite os javalis invadem, desfrutar de randonnées pela natureza. Ali, as horas passam lentamente, marcadas pelos sinos da igreja do outro lado da rua. Uma vez por ano, em Agosto, todos os caminhos vão dar a esta casa, dezenas de parentes encontram-se, festejam os laços que os unem e antes de se dispersarem tiram a tradicional foto de grupo, tendo como pano de fundo a centenária fachada de pedra que tantas recordações encerra.