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LANCHE PARA TARDES FRIAS

O outono começou com chuva e temperaturas a cair, e para acompanhar estes dias bastante frescos, nada melhor que uma boa chávena de chocolate quente com uma generosa colher de gemada.
A receita é da minha tia Lúcia, que costumava servir esta bebida numa terra em que a temperatura média anual é de 26 graus, e a humidade do ar ronda os 90%. Combina? não mesmo, mas a verdade é que fazia as nossas delícias.

O processo é bem simples:

1- colocar o leite para ferver e ir engrossando com um chocolate amargo. Eu usei chocolate em pepitas mas pode ser em pó.
2- Para a gemada: bater as claras em castelo, e quando estiverem bem rijas, juntar as gemas. Misturar, e adicionar 1 ou 2 colheres de sobremesa, mal cheias, de açúcar.

A única dica importante é preparar a gemada o mais perto possível da hora de servir, para elas irem para a mesa bastante encorpadas.
Colocar a gemada numa molheira com uma mini concha também dá um charme extra. Eu improvisei com o açucareiro, acompanhei com uns scones a sairem do forno, e eis um lanche bem energético.



Notaram o papel de parede que serve de cenário ao meu lanche? ok, não sou apologista de mostrar as coisas antes delas estarem prontas, mas trata-se da zona de refeições da cozinha de casa, que se encontra em remodelações. Ainda faltam novas prateleiras para expor as velharias que encontro por aí, e mais algumas ideias que tenciono pôr em pratica, mas não sei se vão funcionar. Fica prometido para breve um antes e depois ao pormenor! 

AS FESTAS DE ANTIGAMENTE

Das dezenas de fotos antigas que tenho da minha família, infelizmente guardadas numa caixa sem que nunca ninguém, nem eu própria, tenha se preocupado em dar-lhes destino melhor, as que mais se destacam aos meus olhos, aquelas que comtemplo vezes sem conta, absorvendo cada detalhe das imagens, são as que numa sequência, contam os primeiros aniversários da minha mãe. 

Tudo naquelas fotografias, fascina-me.
Através delas, ano após ano, vejo a minha mãe passar de bébé a criança, perder os dentes, ganhar uma irmã.

Chama-me a atenção o cenário, sempre o mesmo, onde apenas um ou outro detalhe muda. As cortinas de crochet que a certa altura são substituídas por outras em renda, o relógio, a cristaleira, as flores nos dias de festa e o pormenor do frigorífico na sala, um luxo há 75 anos.

Não fico indiferente à elegância dos meus avós, em pose austera com as filhas junto à mesa, antes de começar a festa, eternizando o momento. Às roupas impecáveis, aos penteados cuidados, ao capricho extremo.

2º aniversário, Chapéuzinho vermelho, outubro 1938
E tento imaginar a deliciosa movimentação que não seria naquela casa nos dias (ou semanas) que antecediam a festa. O carinho da minha avó, que com o envolvimento de todos, até das vizinhas, decidia o tema, idealizava as lembranças, imaginava e montava as mesas, confecionava os bolos, enrolava os doces.

Festa da primavera, 3º aniversário, 1939

BANQUINHO DE ROUPA NOVA

Há já algum tempo que não publicava um clássico Antes e Depois. Daqueles que não fica muito por dizer, apenas mostrar as imagens.
A história deste pequeno banco eu já contei aqui. A seguir à publicação dessa postagem, ele continuou ainda uns bons meses no meu gabinete. Até que a Cristina, uma colega de escritório, um belo dia diz-me:  
" Levei o teu banquinho para casa. Vou tratar dele! "

E o banquinho voltou esta semana: de roupa nova, colorido e com berloques. Pronto para uma nova vida lá em casa, onde vai passear, perambular e flanar, até encontrar o seu lugar.



Gosto do fato de ser um banco tosco, executado numa madeira popular e cheia de nós, com pregos à vista e marcas do tempo.

DOCE DE TOMATE E OUTRAS IDEIAS

Eu que nem gosto de cozinhar, tive o atrevimento de pedir à Manuela a receita do doce de tomate. Pedido a que ela não só gentilmente acedeu, como ainda descreveu ao pormenor todo o PAP da execução, o que para uma amadora como eu, é fundamental. 
Vale a pena visitar o blog da Manuela: os doces são de dar água na boca, tudo home made, com frutas e legumes produzidos na sua quinta. Além disso, ela adora receber e isso fica bem patente nas produções chiquérrimas de mesas, que ela monta, só para nos inspirar.

Portanto, qualquer semelhança entre o post de hoje e o blog cem manias não é mera coincidência.

A tarde de sábado foi então passada a apurar o doce, colocar o produto em frascos e finalmente decorar os potes. Essa é para mim a melhor parte: usei retalhos que tinha em casa, cordel ou ráfia para atar, e imprimi fotos em papel autocolante para servir de rótulo. Achei que não havia necessidade de escrever nada, nem sequer a data, uma vez que a produção foi modesta, ou seja, não vai durar muito...

Depois, e sempre ao jeito do cem manias, foi hora de montar as mesas. Vocês sabem que eu gosto de papéis. Acho que é um material que dá pano para mangas, não é caro, e sendo descartável, é prático e pouco trabalhoso.
Lembrei-me do Le pain quotidien, e da simplicidade com que serve os clientes em individuais de papel pardo.

UMA CASA QUE TRANSBORDA

Conheço a Danielle desde sempre. As nossas mães eram BFF*, embora não o soubessem, porque a expressão não existia na época. Mas sentiam-no.
E as nossas avós, vizinhas: o portão do jardim da casa de uma, ficava em frente ao portão do jardim da casa da outra.
Uma amizade de três gerações, portanto.

A casa da Danielle é grande em tudo. Abundante em espaço, generosidade e em amor. Em filhos também. Sete ao todo, alguns do coração.
Quem conhece bem a Danielle, identifica a sua personalidade enérgica em cada canto da casa: um quê de exuberância e inconformismo, mesclado a grandes doses de se dar aos outros. 

É uma casa muito habitada e de portas abertas, em todos os sentidos. Sem fronteiras entre os espaços, nem conceitos pré definidos. 
O verbo que me ocorre é transbordar.
Aqui tudo se confunde: a arte entra na cozinha, as frutas e legumes estendem-se para a sala, a sala espalha-se lá para fora em bonitas e coloridas redes.