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CADEIRA PRIMAVERA

A história da agora denominada cadeira primavera aconteceu como tudo na minha vida: no imprevisto. A cadeira em si, típica dos anos 20 com um ligeiro estilo art deco no formato dos braços, encontrei-a há cerca de 30 anos num andar abandonado. Lembro-me que mandei restaura-la e arranjei um tecido neutro, pois nessa altura ainda tinha o pensamento que o a ausência de cor seria a escolha mais segura. Alguns anos e 3 filhos mais tarde, quando o "neutro" já estava cinzento do uso e pejado de nódoas, troquei o estofo para um tecido meio vintage com umas flores lilases, que não desgostava mas também não achava que tivesse agregado grande coisa. E a cadeira, foi ficando, primeiro no quarto, a seguir na sala, daquelas peças em espera para um makeover mas sem nunca chegar a sua vez. Em janeiro último acabei por pegar nela, para limpá-la do verniz escuro e tirar-lhe os riscos, mas óbvio que durante o processo não tive o cuidado de proteger o tecido (nem sei se queria de fato protegê-lo) e acabei por ser obrigada a tirá-lo. Seguiram-se meses da cadeira na sala de casa, somente em "roupa de baixo" (dracalon usado pelos estofadores) à espera que eu tivesse alguma ideia boa para ela. Até que a inspiração chegou: no ano passado ofereci-me de anos (e estendi à família) uma estadia nas Penhas Douradas, Manteigas, Serra da Estrela, pois tinha o desejo de conhecer a reabilitada Burel Factory, cuja história é fascinante e a própria visita à fábrica com a maquinaria antiga e a mostra infindável de produtos que desenvolvem é um passeio inesquecível. Ficaram-me sempre na cabeça os painéis em 3D e as suas inúmeras possibilidades, e a vontade de encher a cadeira de flores não me saia da cabeça. Os painéis não são vendidos a metro pelo que plantar um jardim na cadeira deu-me um certo trabalho: passear com ela até ao estofador para que este fizesse os moldes daquilo que iria precisar para forra-la (e trazê-la de volta para casa porque a oficina do estofador é pequena e ele não podia ter lá a peça sine die), levar os moldes à loja da Burel no Chiado para obter um orçamento, seguindo-se a tarefa complicada de decidir as cores em meio a tantas e tão bonitas, e finalmente, voltar ao estofador com os painéis e implorar-lhe que fizesse o trabalho antes de ir de férias!! Enfim, estou agora a colher os frutos, ou melhor, as flores da minha escolha e completamente in love com a cadeira primavera!