É uma casa geminada e igual a todas as outras que estão à volta. As janelas são pequenas, a orientação solar não é das melhores e por conta disso a luz não entra como se desejaria. Apenas uns tímidos raios de sol pela manhã no quarto, e mais uns quantos da parte da tarde, na cozinha. Mas fica numa rua tranquila e é simpática. Ou melhor, talvez as três pessoas que lá moram tenham conseguido lhe dar alguma graça, mais, muito mais, pela jovialidade e alegria de viver que têm do que propriamente com o sentido estético que possuem.
A Kelli trouxe o que estava esquecido no sótão dos pais. A Lauren completou a sala com usados encontrados online. A Bea contribui com móveis baratos do Walmart, e alguns itens desviados da casa da mãe. Pelo meio, herdaram a mesa de jantar com cadeiras de uma colega que regressava ao país de origem. Peças que não combinam nem conversam, muito menos se harmonizam, mas formam um todo que, de alguma forma, acolhe-nos e abraça-nos.
Aqui fiquei duas semanas e durante esse tempo houve casa arrumada, flores frescas e mesa cuidada. Mudei alguns móveis de lugar, pendurei os quadros jazidos no chão. Com uma fita métrica de costura a fazer de régua, uma tesoura de cozinha, e sem tirar as gavetas do sítio, dei um up na cómoda enfadonha. A Bea já está habituada a esta mãe que gosta de inventar, mas como a cada dia havia uma novidade, justificava-se perante a surpresa das housemates com um "well, you know, that´s what she does for living". Elas, divertidas, respondiam que estava tudo "so cool", o que para os meus ouvidos, não só soava a elogio como era sinónimo de "go ahead"!