Ficou pronta mais uma peça para o quarto da casa de praia, agora definitivamente e para todo o sempre, batizado de quarto verde. O item da vez foi a estrutura de abajur que encontrei na rua e salvei sem muita convicção, apenas por estar em bom estado e ter um formato engraçado. Juro que não era minha intenção fazer algo tão ao estilo "Maria Antonieta pop" de Sofia Coppola, mas nas minhas andanças pelas lojas à procura de inspiração, tiaras de flores foi o que encontrei que se me afigurasse mais adequado (e fácil) para entrelaçar na armação. Como acabei com o estoque do Chinês e para colmatar alguns buracos que ainda teimavam em aparecer, o jeito foi recorrer à imaginação e a algumas flores soltas para tapar as aberturas, mas quando observei o trabalho concluído, pareceu-me que esses pequenos truques não atrapalharam a harmonia do conjunto. O passo a passo é simples e só requer alguma habilidade para entrançar as lianas, e no final, cola quente para compor as flores que estiverem caídas ou mal posicionadas. O abajur ficou conhecido aqui em casa por "bolo de noiva". Barroco e ultra feminino, acrescentaria eu.
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EM CASA DA TIA
Por vezes o melhor das férias nem é a quebra de rotina que se avizinha ou a expetativa da viagem a empreender, mas sim o fato de ficarmos hospedados na casa da família. Casa que é nossa velha conhecida, que tem hábitos característicos, que contém tantas recordações e onde somos recebidos com muito carinho. Assim é a casa onde vivem os meus tios há mais de 50 anos. Um oásis no meio da cidade, que começou pequena, foi ampliada com a chegada dos filhos, modificou-se quando estes casaram, e continua em mutação, não tivesse a minha tia, uma mente inquieta e um marido colaborante. Um lar sempre cheio também, de objetos com valor sentimental, de netos, de amigos, e da parte lusa da família, que de vez em quando atravessa o oceano e instala-se lá.
Na casa da tia há muitas lembranças de viagens e peças de afeto que falam dos donos e da família, mas há três coisas que gosto particularmente de rever e contemplar quando lá vou: a parede com a coleção de azulejos para a qual contribuo sempre que surge oportunidade; a mesa e cadeiras de ferro que ladeiam essa mesma parede e que antigamente era o mobiliário do alpendre da casa da minha avó; e o jardim de inverno com azulejos amarelos na sala de jantar, que desde pequena espantava-me pois quando chovia, molhava dentro de casa e pouco depois com o calor próprio do clima equatorial, secava, deixando um cheiro característico no ar. Para quem vinha da Europa, esta comunicação explícita entre exterior e interior era coisa quase insólita!
Apesar das constantes alterações, há elementos que se conservam, tais como as madeiras maciças das portas e janelas, a pouca luz que entra na casa no intuito de enganar o clima quente e húmido da região, a vegetação alta e densa do jardim que invade também os interiores, o cheiro a tapiocas acabadas de fazer, logo pela manhã. E claro, há algo que se perpetua e até se acentua com o passar dos anos, e que é o afeto dos tios.
Apesar das constantes alterações, há elementos que se conservam, tais como as madeiras maciças das portas e janelas, a pouca luz que entra na casa no intuito de enganar o clima quente e húmido da região, a vegetação alta e densa do jardim que invade também os interiores, o cheiro a tapiocas acabadas de fazer, logo pela manhã. E claro, há algo que se perpetua e até se acentua com o passar dos anos, e que é o afeto dos tios.