CHEGOU AO PARÁ, PAROU. TOMOU AÇAÍ, FICOU.*

Não foi por ter provado açaí que parei, e muito menos lá fiquei. Mas a verdade é que esta não foi a primeira vez que fui ao Pará e espero que não seja a última, pois voltar é a oportunidade para redescobrir e fazer várias viagens numa só, não fosse a cultura deste estado riquíssima e a culinária, uma das melhores e mais diversificadas do Brasil. Não pretendo escrever aqui um diário dos dias que passei em Belém e na Ilha do Marajó, mas apenas dar-vos a conhecer aquilo que mais me atrai na capital e nessa enorme ilha (na verdade um arquipélago), aos meus olhos de estrangeira. uma estrangeira que volta sempre.

Uma experiência a não perder é acordar bem cedo, preparado para enfrentar o calor equatorial e ir ao encontro dos sabores e os aromas do Pará no mercado de Ver-o-Peso, na parte velha da cidade.

O mercado, que é considerado a maior feira ao ar livre da América Latina, fica às margens da Baía do Guajará, e os produtos chegam principalmente por via fluvial. Aqui a azáfama começa de madrugada, e para mim, este é o melhor e mais autêntico passeio turístico a fazer em Belém. É aqui que se consegue ter uma pequena ideia das riquezas da terra e da vivência do povo.

Em Ver-o Peso há de tudo um pouco, e apenas mostro uma ínfima parte, ou este post iria ficar gigantesco. Passei pela zona dos peixes, dos legumes e das frutas, todas exóticas. Lembro-me de em 2006 ter estado em Belém com as minhas duas filhas, e tê-las levado à Sorveteria Cairu, onde, dizem, e talvez seja verdade, prova-se o melhor gelado do Brasil. Mas as miúdas ficaram banzadas e estáticas sem saber o que escolher, pois em vez dos tradicionais chocolate,baunilha ou morango, a montra do estabelecimento apresentava sabores das frutas locais: bacuri, graviola, açaí, taberebá, pupunha, tucumã e por aí seguia...
Onde deliciei-me e perdi mesmo tempo foi com as castanhas do Pará, as farinhas, e o artesanato.
Há anos compro castanhas do Pará no supermercado, e não sabia que ela vinha de um ouriço, onde se encontra uma dezena de castanhas dentro. Foi a primeira vez que vi-as a serem descascadas e vendidas frescas, leitosas e suculentas:

A mandioca é um produto que sempre esteve presente nos pratos lá de casa, não fosse eu filha de Brasileiros do nordeste. Foi um deleite vê-la no mercado a ser descascada e moída para ser transformada em diversos tipos de farinha.

Transtornos como a queda de cabelo ou males de amor? procura alguma loção, óleo ou perfume especial? Aqui há de tudo, desde remédios naturais, preparados com ervas locais (jambu,tucupi), aos mais finos aromas: sabonetes de priprioca, andiroba, patchuli. É só escolher a essência ou o problema a curar.

Os brinquedos de miriti são feitos da polpa da palmeira, e hoje considerados património cultural do estado do Pará, São peças coloridas e singelas que representam os costumes da terra e recriam a fauna da Amazónia:

E de Ver-o-Peso para o Marajó. Os barcos partem ao raiar do dia, do moderno terminal hidroviário de Belém, sobre o qual a Lia tão bem nos fala aqui. São quase 4 horas de viagem até ao Porto de Camará já em Salvaterra, na ilha, e nem sempre a viagem decorre tranquila, ou não estivéssemos nós perto do equador, onde o clima muda de uma hora para a outra, e de repente vem o vento e cai um toró (chuva abundante). Os barcos são chamados de "pópópó" devido à cadência do motor, e em cada um deles seguem cerca de 800 passageiros.

No Marajó tudo é rústico e muito simples, um mundo de água e mata. O destaque da ilha são os rebanhos de búfalos. Do leite das búfalas se produz a manteiga e o queijo. O filé de búfalo também é muito apreciado na região, principalmente por ter consideravelmente menos gordura que a carne bovina. Infelizmente, não sei o que fiz com as fotos das manadas que tirei, penso que inadvertidamente as apaguei da máquina. Para compensar, fiquem com o colorido das ingénuas fachadas dos edifícios locais: 

Uma das praias mais conhecidas, é a praia do Pesqueiro, em Soure. Não espere por grandes estruturas turísticas, mas há barracas rústicas simpáticas que nos encantam pelas suas cores vivas, Aí servem filés de peixe frito, sempre acompanhado de farofa, e o famoso turu, um molusco que vive nas árvores dos mangues. Para beber, uma cervejinha ou um dos inúmeros sumos das frutas locais.

A curiosidade do telefone público na pousada em que fiquei:

Outro atrativo da região, é a arte Marajoara, legado dos indígenas que habitavam a ilha. As peças autênticas recriam a técnica original: o instrumento usado na feitura dos desenhos e padrões é o dente da Sucuri, o chifre do búfalo serve para polir. Os pigmentos são naturais e os objetos vão cozer sobre o fogo ou num forno a lenha. As peças são as mais diversas, desde urnas funerárias a utensílios do dia a dia ou meramente decorativos.

Trouxe comigo duas peças Marajoaras que neste momento ornamentam a mesa da sala de jantar

* O título do post é um dito popular, que expressa a história de quem pisou solo Paraense e deixando-se encantar pelas belezas da terra, não mais de lá saiu.